quarta-feira, 29 de agosto de 2007

Festival de Inverno

Nesse mês de agosto aconteceu, como vem sempre acontecendo, o festival de inverno em Vitória da Conquista. Foi a primeira vez que eu fui e pretendo não mais deixar de ir, desde que ela continue nesse nível cultural de esfera máxima – principalmente na Bahia. Que satisfação ter participado de um evento de tamanhas proporções em que se misturam em um mesmo lugar, dança, ritmos, culinária, amostra de filmes, quadra de patinação de gelo, tenda de dance music, todas as tribos reunidas em um local, testemunhado pelo frio daquele lugar.

O festival de inverno é fruto do Agosto de Rock, que surgiu anteriormente, mas que não foi à frente por razões que não conheço. Eu ainda era estudante de História em Vitória da Conquista, quando ouvia falar no surgimento do Agosto de rock, até mesmo um professor da área – Tadeu Botelho – participou desse evento em que reuniram-se em um mesmo lugar várias pessoas que gostam de rock. Não pude ir nesse evento, que também não sei o porquê da razão de não ter ido, mas sei que o falatório foi muito positivo. Depois que deixei a cidade de Conquista nunca mais voltei e nem mesmo pude ir aos festivais de invernos anteriores a desse ano.

Cinco anos se passaram e eu então resolvi me programar para ir nesse festival, não somente ir a festa, mas também, rever os amigos de faculdade, os vizinhos lá deixado, os amigos do peito, enfim respirar ares daquela terra. Qual foi minha surpresa, o final de semana que eu passei lá foi acalentador, revi amigos e “comi água” com eles, dancei rock de primeiro nível como o Ira que detonou em seu dia, Paralamas (fez um bis mais longo que já vi até hoje) e Lulu Santos (que foi pífio em sua apresentação). O mais importante disso tudo foi além de rever conhecidos, foi perceber como a Bahia é um Brasil dentro dela.

Na própria viagem de ida já ia percebendo os contrastes regionais e geográficos ao sair de Itabuna até chegar a Vitória da Conquista. Aqui (Itabuna) o clima é outro, mais chuvoso, mais verde, uma cultura mais a revelia do cacau. Quando chego a Itapetinga já percebo diferenças, clima, cultivo (agropecuária), relevo, tudo diferenciado, como se eu estivesse em uma zona do norte do Brasil e, ao subir a serra do Marçal, o clima vai se transformando, um friozinho vai chegando forte, o café aparece, o relevo modifica-se, clima esse que se parece com regiões frias do sul brasileiro. E o povo nessas diferentes localidades também tem cada uma, suas especificidades, educação, diferentes maneiras de ver o mundo.

O povo em Conquista, Conquista em si, fascina a qualquer visitante que nela chegue. A hospitalidade de seu povo, a educação (nas filas para se entrar no show ninguém cortava; dentro do espaço da festa, em pleno rock rol, as pessoas pediam licença ao passar por você), a maneira de lhe atender em espaços comercias (a ressalva que faço é que deveria o comércio ficar aberto mais tarde no sábado e no domingo, já que na cidade encontram-se turistas de diferentes localidades), tudo isso fez com que quem esteve lá queira voltar no ano que vem.

A cultura foi a mola propulsora no Festival de Inverno, rock, forró, música eletrônica, MPB, um aglomerado de idéias reunidas em um só momento e em um só lugar. Queria muito que na Bahia tivesse mais esse tipo de evento cultural, como foi o Festival de Inverno, misturando cultura vasta, reunindo outros ritmos musicais que não a propagada e massificada pelas rádios como o sempre arrocha, axé, rei da pisadinha, pagode, calypso etc. Não estou fazendo juízo de valor, nem dizendo que esses ritmos não prestam, apenas querendo um espaço, tão grande quanto, para que possam passar eventos diferenciados pela mídia baiana e até mesmo global.

Reunir literatura, arte, história, música, intérpretes, repentistas, poetas, escritores, contistas, forrozeiros de boa qualidade, cinema, em um lugar para que todos possam ingerir dessa miscelânea cultural, com preços aquicessíveis ao público ou até mesmo em praça pública de graça a todos, seria um passo para uma possível revolução cultural e enxergar e transformar o mundo de outra maneira. Não apenas sermos levados pelo poder da “midiocracia” ou do poder televisivo da Rede Globo, e sim podermos ter a chance de cantar letras ou declamá-las a todos fazendo sentir que pertencemos a esse mundo e dele temos responsabilidade de agir para o bem e sobrevivência da espécie. Que venha mais festivais como esse para toda a Bahia e em especial a minha Itabuna.