terça-feira, 4 de setembro de 2007

Sete de Setembro – o pior cego é aquele que finge não enxergar

Vejo crianças desfilando nas ruas, rapazes, moças, adolescentes ou não, se agrupando ao mando de um “maestro”, marchando, desfilando para que no dia esperado nada saia errado. Por que isso? Porque será que o desfile cívico só se apresenta quando é chegado o sete de setembro? Será que essas pessoas estão desfilando porque realmente querem ou foi influência imposta de diretores, professores, por alguma nota extra no final da unidade escolar? Que importância tem para nós brasileiros, principalmente para o povo sofrido, se vai ter ou não macha pública no dia da comemoração da República ou do Sete de Setembro? O que será mais importante, desfilar por desfilar, ou saber da verdadeira história da malfadada Independência tão contestada como A Confederação do Equador, a Guerra da Cisplatina, as rebeliões regionais: Cabanagem, Farrapos, Sabinada e Balaiada etc?

Vejo instrumentos musicais entocados nos porões ou depósitos malfadados, ficam lá praticamente o ano todo, sozinhos, esperando um momento para serem lembrados, usados, e depois serem novamente esquecidos. Quanto dinheiro não fora usado para comprar esses instrumentos (da banda), e quanto ainda não se gasta para tê-los funcionando? Que panacéia desvairada é essa? Até quando iremos sustentar essa educação dos grandes heróis e grandes feitos incrementadas nas escolas pelos pensadores burgueses? Será que é justo ainda incutir no povo que existem ou existiram grandes homens que levam ou levaram a nossa história ao progresso? E se houve progresso ela serviu para quem – quem saiu ganhando? Para quer fingir dizendo que existem grandes homens, heróis da nação? Será que o maior patrimônio do Brasil não é o heroísmo do seu povo, que consegue sobreviver num dos países que mais imposto se paga, uma das piores distribuições de renda, um país que não olha para a educação séria e igualitária, não revoluciona a distribuição de terra das plantations, um país das injustiças e das leis do mais forte e dos conluios políticos.

Não consigo olhar um desfile de setembro e me ver representado nele. Só falsas verdades ditas. O Brasil não se deu bem (e nem vem dando) em nenhum regime político. O Império ou a República brasileira trouxe consigo seu caixão e infelizmente os maiores óbitos são o seu povo. A República foi mais um gosto dos meninos burgueses que não se contenta em não ver atendido os seus pedidos. A História mostra a contra mão dos discursos oficiais, revelando quem foram os beneficiários desses Impérios e dessas Repúblicas. Na chamada República da Espada os oficiais do exército tiveram sua vez com Marechais e tudo. Na República Velha os coronéis e políticos perpetuaram os seus poderes. Vargas veio depois e impôs sua ditadura. Depois tivemos outros momentos da Reestruturação da República e nada de melhorias para o povo. Tornamos mais independente do capital externo, que outrora estava nas mãos dos ingleses e passa então às mãos dos ianques. Veio outra ditadura, essa agora em 64 e mais uma vez fomos vítimas dela. Enfim estamos nós aqui tentando sobreviver das marcas das dores, dos chicotes, das perseguições, dos seqüestros, dos desatinos, da falta de esperança do amanhã.

Será mesmo que temos que desfilar com roupas pomposas, luvas, meias e chapéus que nada tem haver com o nosso clima tropical? Quem vai se glorificar com isso, para quem estamos mostrando tudo isso? Não seria interessante esse dia ser dedicado a uma manifestação pública, um dia do desabafo, da indignação, todos levando ao conhecimento de todos, as mazelas públicas e privadas, o descaso do legislativo, judiciário e executivo, falar dos problemas sociais, todos com cartazes, marchinhas criativas, respeitando o direito de cada um, o direito de expressar ao bem da coletividade. Esse sim seria um Sete de Setembro bacana. Com professores, pesquisadores, falando de coisas relevantes para a humanidade, debatendo sobre o que esperam do amanhã. Os órgãos públicos promovendo essas discussões e não reproduzindo subterfúgios de verdades, onde o que mais se vê é a perpetuação da cegueira humana, o descaminhar do tripé da Revolução Francesa, e a renovação da Política dos Governadores e dos votos de cabresto. Essa sim é a República na sua integridade. Vamos continuar dando vivas a Marechais e Generais nesse país??? Que rufem os tambores.