segunda-feira, 21 de maio de 2007

A polêmica dos agrocombustíveis

O século XXI já está mostrando suas características e dando-lhe forma. Já no início do século vimos intensamente a geopolítica norte-americana sendo aplicada na região do Oriente Médio, desde quando foi iniciada a procura dos líderes do Talibã e da investida ao Iraque. Neste último já está evidente que o motivo da guerra intolerante dos EUA não foi à justificativa de que o Iraque tinha armas químicas e sim a política energética do combustível fóssil não renovável e logo esgotável- o petróleo.
Nessa era veremos a substituição dos combustíveis fósseis pelo etanol, biodiesel e carvão vegetal, tida como energia limpa e renovável, os agrocombustíveis – também chamados de biocombustíveis. São vários os países que se interessam pelo assunto a começar pelos americanos do norte, americanos do sul (Brasil), Japão e União Européia.
Os acordos comerciais, afirmados por Marcos Rogério de Souza, que estão sendo negociados abrem a possibilidade do Brasil ser o principal fornecedor de agrocombustíveis para as grandes potências do planeta. Isso sugere pensarmos que, se isso se confirmar, existirá um aumento do plantio de cana, soja, mamona e eucalipto. Segundo o mesmo Marcos, a área plantada pode chegar a cerca de 100 milhões de hectares, o que representa 1/3 da área agriculturável do país. Até agora isso tudo indica que o Brasil vai avançar – essa frase constitui os nossos males – mas temos que analisar ângulos, discursos, pois em cada palavra existem dois lados. Veremos os eventuais problemas possíveis.

1- A ampliação da área plantada pode ocorrer sobre o que resta das plantas tropicais, da Amazônia e pela substituição do plantio de alimentos

2- O Brasil quer se tornar o maior fornecedor de etanol e biodiesel do mundo, a custo de quê, quais os preços que temos que pagar em troca disso? Uma nova corrida armamentista desponta?

3- A cana, soja e eucalipto, são produzidos em regime de extensas monoculturas. Os impactos negativos das monoculturas já são conhecidos, desde os plantations, até as grandes propriedades do agronegócio: desmatamento ilegal, aumento da violência no campo decorrente da expulsão de camponeses e posseiros, ampliação da concentração fundiária, multiplicação do uso de agrotóxicos e demais agroquímicos, pobreza rural e urbana (decorrentes do êxodo e da baixa incorporação de trabalho), aumento das importações básicas (arroz, trigo, cebola, batata e feijão). Esses males serão direcionados ao ecossistema e a saúde humana.

4- Conforme relatou a ONU recentemente, o desmatamento é uma das principais causas do efeito estufa, e se desmatarmos ainda mais o que apenas resta das nossas florestas estamos perdidos.

5- As commodities possibilitam uma invasão estrangeira para adquirir usinas e terras brasileiras para produção de etanol e biodiesel. O país corre sério risco de se desnacionalizar ainda mais, enfraquecendo nossa soberania

6- Os agrocombustíveis reforçam a propriedade privada dos meios de produção

7- Até que momento o etanol é uma fonte de energia limpa e renovável, se os métodos utilizados para a produção de cana (latifúndio, agrotóxicos e uso intensivo do solo) promovem queimadas de intensas áreas, poluindo o meio ambiente e contribuem com o efeito estufa?

8- A cana, assim como o eucalipto, retém grande quantidade de água, estimulando assim o processo de desertificação do solo

9- No Brasil o setor sucroalcooleiro é um dos que mais exploram a mão-de-obra do trabalhador, sendo regularmente denunciado pelas condições de trabalho degradantes e pela exploração de mão-de-obra escrava. Na região de Ribeirão Preto há diversos registros de mortes de catadores de cana decorrentes de exaustão física.

10- A liderança do Brasil no mercado de agrocombustível, se nada for mudado, acarretará, a desnacionalização da terra, redução da produção básica de alimentos, da elevação da concentração fundiária, da ampliação da pobreza rural, da degradação ambiental e da precarização do trabalho.

Esses dez pilares que acabamos de ver nos remetem a seguinte pergunta: será que compensa? Será que para a maioria do povo (sofrido) brasileiro vale a pena, é vantajoso, melhorará a vida nossa? Posso já assinalar um acerto de Marcos, aonde ele afirma e insiste em dizer “em commodity não é nenhuma janela aberta ao futuro, mas um profundo mergulho no atraso do passado agrário nacional, que poderá agravar ainda mais a chamada questão agrária brasileira”.
Quais as possíveis alternativas? Uma reforma agrária séria e sólida aos moldes dos países que já o fizeram e se destacam na ponta da economia mundial; a valorização da agricultura familiar camponesa e o fortalecimento do mercado interno. Esses são alguns pontos específicos sobre outras maneiras de nós brasileiros, prioritariamente, melhorarmos nossas condições de vida, de forma singular e plural, possibilitando esticar os laços das transições econômicas mundial, mas levando em conta os benefícios de todo povo brasileiro.
E aí o que você sugere, o que você pensa sobre isso, quais outras maneiras de alternativas que levem o Brasil a ser um país realmente de todos nós? Opine mandando idéias para o meu blog.