quinta-feira, 18 de janeiro de 2007

América Latina em Revista

Hugo Chávez tomou posse para um novo mandato como presidente da Venezuela, prometendo radicalizar a sua "revolução" e fazer estatizações. "Juro por minha pátria que não darei descanso a meu braço, nem repouso a minha alma, que entregarei meus dias e minhas noites e minha vida inteira à construção do socialismo venezuelano, à construção de um novo sistema político, um novo sistema social, novo sistema econômico", disse Chávez, no modesto ato celebrado na Assembléia Nacional. "Pátria, socialismo ou morte, juro."

Quando eu entrei para a Universidade de História na UESB não sabia perfeitamente ou bem mais detalhado o que era Socialismo, Anarquismo, Anarco-sindicalismo, Comunismo, etc. Li muitos livros sobre estes assuntos, discutimos, analisamos, fizemos fichamentos, resumos, resenhas, seminários, enfim, cada aluno tirava as suas conclusões espontaneamente, mas com caráter científico. Uns eram mais radicais, tinham professores que também eram bastante radicais, outros mais observadores e menos afoitos, outros que não achavam essas teorias corretas, portanto, eram um universo de idéias rodopiando no ar. Mas o que concordávamos e concordamos, sejamos acadêmicos ou não, é que o mundo precisa melhorar, a paz deve ser o objetivo máximo de nossos esforços. O socialismo, com todos os seus extravios de exemplos eram o que mais nos chamavam a atenção, assim como o anarquismo.

O que diz então o Socialismo: diz que a finalidade do caminhar humano é o igualitarismo, a linear distribuição de bens e serviços, uma vida de igual para todos, eliminação da propriedade privada, um mundo onde não possa existir burgueses exploradores de mão-de-obra barata, onde todos possam ter iguais condições de vida digna. O que Hugo Chávez deseja é que não somente a Venezuela atinja esse estágio, mas também a América Latina. Que esta não seja curral, ou consumidores estático dos Norte-americanos. Essa idéia já vem de muitos tempos atrás, bem antes até mesmo de Simon Bolívar - militar venezuelano e líder revolucionário responsável pela independência de vários territórios da América Espanhola.

Claro que Bolívar não era Socialista, até porque ele morreu antes de Karl Marx escrever o que pensava do mundo capitalista isso no século XIX. De lá pra cá a AL passou por vários governos e por um longo tempo de Ditadura Militar, onde as individualidades e manifestações artísticas e o livre pensar eram ferrenhamente proibidos e castigados com suor, lagrimas e morte. Quando esse período cessa, ressurgem líderes populares querendo refazer as idéias de ver a AL unida e forte- atualmente quem incorporou isso foi o Chávez.

"As pessoas votaram pelo rumo do socialismo, as pessoas querem e exigem o socialismo, e a pátria precisa de socialismo", disse Chávez. Alterando a tradição, ele preferiu passar a faixa presidencial sobre o ombro esquerdo, ao invés do direito, no que seria um símbolo das suas credencias socialistas. Fico às vezes perguntando se o mundo cabe a forma tradicional do que concebemos como socialismo. Será que Chávez idealiza isso de forma utópica sabedor de que na materialização isso não venha acontecer devido a essas políticas globais e sem pátria? Será que não é só um sonho egocêntrico de sua parte, já que as potências econômicas jamais permitirão tal acontecimento? E o povo que sempre busca um melhor coletivo, esperançoso que é, alimenta essa esperança em um líder que fala sua língua e seja popular, acredita mesmo que isso venha acontecer? Não sei, o que sei é que Chávez sabe usar isso muito bem e tanto é que foi reeleito por enormes quantidades de votos – e quer se perpetuar no poder.

Na posse, ele citou passagens bíblicas sobre a distribuição de riquezas, mas não deu detalhes sobre seu plano de nacionalização das empresas de serviços públicos. Os investidores estão ansiosos por saber se ele quer que o Estado tenha a maioria das ações ou 100 por cento do controle. Hugo recentemente diz que o seu sonho (entende-se também o de seu povo, será que é mesmo?) é que o Estado seja o dono de tudo, até mesmo do que deve ser passado nas emissoras de comunicação e sem a presença alienatória de outras mídias televisivas, jornalística ou seja, dos meios de comunicação (em seu discurso ele disse que quer nacionalizar a CANTV, maior empresa venezuelana de telecomunicações).

Chávez, que recebeu 63 por cento dos votos em dezembro, já admitiu sua intenção de mudar as regras para permitir reeleições indefinidas. Na posse, ele reiterou sua intenção de buscar poderes que lhe permitam governar por decreto em algumas questões. Esse é outro ponto polêmico, a perpetuação do poder. Alguns países já tiveram experiências iguais a essa em que ora quem ficava no poder era uma pessoa ou as pessoas do mesmo partido – exemplo disso foi à Rússia, China, Cuba. Esses exemplos foram para países que queriam o comunismo como metas, mas tiveram países que queriam a mesma rota de se perpetuar no poder através do capitalismo e até mesmo das forças armadas. A oposição acusa o presidente, no cargo desde 1999, de tentar transformar o país, quarto maior exportador de petróleo para os Estados Unidos, em uma economia centralizada no estilo cubano.

A proposta de Chávez para o gás amplia sua política de gradualmente passar o controle do setor energético ao Estado. Ao abrir novas frentes contra a mídia e as concessionárias de serviços públicos, Chávez pode estar buscando dois setores que iriam completar seu controle estatal- já que ele também domina o Congresso, o Judiciário e a estatal de petróleo PDVSA. As pesquisas mostram que os venezuelanos em geral vêem com receio as expropriações de patrimônios privados, mas apóiam a nacionalização de empresas se isso for do interesse nacional.

Este panorama está apenas começando, vamos ver como os EUA, Europa e Ásia vão se comportar frente a isso, principalmente o Brasil que é o maior responsável pela economia dos países sulamericanos. O Presidente Lula ver com bons olhos o governo de Hugo Chávez, porém não sabemos até quando essa boa vizinhança vai permanecer. Petróleo ainda é a bola da vez na economia mundial, até porque os EUA são os principais compradores da Venezuela e eles (UEA) são insuficientes nessa riqueza fóssil. Mas está chegando o próximo passe que desembocará nos setores energéticos e de sobrevivência humana que é a Água e a Floresta Amazônica. E nós temos que ficar atentos e lutar pela nossa e das futuras sobrevivências do ecossistema global.

segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Análise do fim do ano.


Professor Wagner Freitas - wagaoprofessor@gmail.com

Data: 03/01/2007

Anti-véspera de Reveillon, estou aqui analisando a vida e achando o propósito de se comemorar ou não o ano novo. Mas que ano é novo? Porque acreditamos que existe realmente uma ruptura e tudo se passa e algo se começa? Por que as pessoas se inspiram de afetividade e esquecem até mesmo de que nós seres vivos pensantes não prestamos. Ilusões, podemos sintetizar isso tudo nessa única palavra: ilusão.

Ando pelas ruas e encontro o valor humano sendo descartado da vida. Minhas visões demonstram que a vida também é amarga. Crianças e idosos abandonados, pedintes, roubos, drogas, marquises sendo disputadas a tapa, ameaças, violências, mortes, a razão sendo sobrepujada pelo imediatismo do poder e da arrogância. Como pensar que ao acordar tudo isso será mudado se não fazemos nada? O homem burguês tem medo do seu semelhante físico, finge que não vê, abnega-se, cria o seu mundo de prazer e êxtase, os renegados da margem social não fazem parte disso e eles querem ser vistos e ouvidos.

E aí aumentam as violências opostas, não mais a violência de briga cometidas nas festa de boy, e sim a violências de trânsitos, de ruas, do futebol, das drogas, do desrespeito. Porque a sociedade vira a costa para essa turma. Então eles dizem “olha eu existo e se vocês não me querem por perto eu chego até vocês do meu jeito”. Isso é uma construção social, fizemos isso. Criamos isso. E agora temos que criar ou então seremos esmagados por nossa própria criação.

Ano Novo. Como Novo se teremos as mesmas dificuldade de antes acrescidas do agora? Os anos foram estipulados pelos historiadores para facilitar os estudos, entender melhor as fases humanas. Existem vários calendários: cristão, muçulmanos, indígenas, hinduísta, Judeu, etc. Mas os anos são um só. São sucessividades de anos e não apenas anos separados, a história não é sozinha, é conjunta. Então por que entramos nessas idéias? São as regras do poder dominante, desde o grande capital financeiro/especulativo ao poder da mídia, ambos se completam. O comércio necessita de gente que pouco pensa e muito compra. Inventam-se dias comemorativos para enriquecer mais bolsos e ações. A regra é simples: seja qual for o estado de espírito humano (alegre ou triste) temos ofertas variadas, desde objetos que te façam felizes à simples ação de ligar um televisor.

Entendo que a contagem de mais um ano serve para revermos conceitos, reavaliar atitudes, idéias, injetar ânimo nas mudanças. Nesse sentido isso é positivo. Mas comemorar por comemorar porque uma gama de gente acha conveniente, sem levantar questionamentos, propor metas, querer mudanças sociais ao invés de apenas pessoais, é ser levado por uma enxurrada de desilusões e ignorância concêntrica. E como será a virada de ano para os enfermos, os enjaulados, os extraditados, os sentenciados a morte, as crianças em situação de vulnerabilidade social, os asilos, as famílias que não tem o que comer, os sem tetos e sem terra, os viúvos e as viúvas, os órfãos.Como todos esses irão comemorar – o que comemorar?

Que venha mais um ano e que nesse todos nós possamos refletir na vida, perceber no nosso semelhante nós mesmos, ver os nossos erros pelos olhos dos outros, apontar mais para si do que para o outro, objetivar sucessos para todos, dignidade, esperança, alegria, fraternidade e muito amor ao próximo. Perdoar, precisamos aprender a usar mais isso, exercitar mais essa frase. Precisamos ler, ouvir boas músicas, precisamos desligar mais as televisões e internet de bate-papo. Temos que viver, ir pra rua e enxergar o nosso semelhante, as dificuldades deles e tentar ajudar de alguma forma, temos que nos movimentar. Aí sim, iremos realmente ter não um ano novo e sim uma vida nova, um ser novo, para enxergar um ano novo. Pense nisso!!!
Paulo Freire, um Homem além de seu tempo!

Professor Wagner Freitas

Data: 26/10/2006

Paulo Freire era brasileiro, natural de Recife –PB. Estudou Direito em Recife e logo após vai trabalhar com educação de adultos e alfabetização de trabalhadores no Sesi (Serviço Social da Indústria). Torna-se diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade de Recife. Participa em Recife do Movimento de Cultura Popular (MCP). Trabalhou também, como liderança, na campanha de alfabetização em Angicos, Rio Grande do Norte. Elabora o Plano Nacional de Alfabetização. Participa da criação do PT (Partido dos Trabalhadores). É nomeado secretário da Educação no município de São Paulo, no governo de Luíza Erundina.

Publicou as seguintes obras: Pedagogia do Oprimido; Pedagogia da Esperança: um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido; A Educação na Cidade; À sombra desta Mangueira.

Ao analisar o livro de Paulo Freire, a pedagogia da autonomia, compreende-se vários pontos que são fundamentais para o entendimento da prática educacional entre professor-aluno. Perceber e compreender que o educador aprende constantemente com o seu aluno e vise-versa é a chave para dinamizar e dialeticizar a prática do aprender fazendo. Saber que a autonomia do educador em sala de aula não é feita de modo autoritário, centralizador, como se o educador fosse o detentor do saber e o aluno um mero depositor bancário de informações.

Outro aspecto em que Paulo Freire chama atenção é sobre a consciência que deve ter o educador em relação ao seu aluno. O aluno antes de ser um mero aprendiz é um ser humano, e um ser humano em processo de formação. Saber como lidar com esses alunos é de substancial responsabilidade do educador. Na verdade o educador tem que ser além de um mero professor, tem que ser observador, saber entender o (s) porquê (s) de determinada atitude comportamental incomum, exercer um olhar crítico e até mesmo psíquico, chegando a esfera da psicologia educacional. O mestre deve incentivar ao aluno a sua práxis histórica; o educador deve se posicionar coerentemente com o que diz e com o que pensa para que a sua prática sustente o que está dizendo, não caindo em controvérsias ou simples falácias, contendo um ar de falso moralismo. A sua prática deve condizer com a sua teoria para que o educando tenha uma certa compreensão e firmeza com que o educador diz.

Acreditar no aluno e saber que ele também detém uma cultura específica contraída durante o decorrer de sua vivência, é outra tarefa que o educador deve ter em mente. Acreditar que o aluno é sempre capaz de transformar não apenas o seu pensar educacional, mas também a sua vida, o seu pensar sobre o mundo, sobre a história. Alimentar e compartilhar a capacidade do educando, dizendo-lhe que sempre, basta querer, será capaz de realizar aquilo que o é desejável, mesmo que pareça ser algo bastante dificultoso; se acreditar em si mesmo, realizará tal façanha. E a partir do momento em que o professor age no aluno, esse automaticamente está agindo direta ou indiretamente no educador; ambos se transformando constantemente no fazer dialético.

Paulo também faz referencia sobre a didática. Para ele a didática atua dialeticamente na relação ensino-aprendizagem. É uma atuação na prática educacional, saindo do diletantismo teórico, para assumir um papel significativo na formação do educador. A prática educativa não deve ser dissociada da crítica, do conhecimento histórico e social em que vivemos. A didática assume a multidimensonalidade do ensino-aprendizagem que caminha ao lado da técnica, do humano e do político.

O Paulo Freire via que o caminho do ensino exige desafios, riscos, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. Educar é compartilhar, ouvir, tentar entender o que se diz através do seu aluno, é estar propício a aceitar o “diferente”, acoplar o que se sente discriminado ao corpo dos alunos, mostrando a todos que em relação ao ser humano se encontra algumas semelhança, mas este não é via de regra. O que todos materialmente e espiritualmente somos é uma vulcanização de diferenças, compartilhamentos de experiências individuais e específicos. Mostrar aos alunos o que isso significa é de consubstancial significância para o processo de aprendizagem e ensino. Portanto, ensinar exige reflexão crítica sobre a prática, e isto se faz atuando em conjunto com a pesquisa. Pesquisa e ensino se completam, se enriquecem e transformam não apenas o nosso eu e sim uma prática social em comunhão. Isto se processa para que o ensino não seja apenas transferir conhecimentos ou depositar conhecimentos, e sim, como diz o próprio autor, “criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Outro ponto bastante educativo para a sociedade, dito por Paulo, é quando este faz menção sobre o ensino e o ser condicionado. Para ele é na inconclusão do ser que se processa paulatinamente a construção deste ser. Explicando melhor, não é dizer o que seja certo ou errado, do que seja bom ou rim (uma ótica particularmente sua) que estará se formando um ser, estará sim modulando este ser. Como retrata o próprio iluminado autor: “não é a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão.” É no fazer fazendo que se “forma” e transforma todos os seres humanos. É na busca de sua utopia que se projeta e se constrói este homem como ser em eterna construção.

Em fim, muitos outros aspectos em relação à vida humana atuante entre educador-educando foram abordados e são de imprescindíveis releituras. Todos os aspectos abordados por Paulo Freire rodam pela prática pedagógica do professor e a sua autonomia na sala de aula e fora dela. É um exemplo de vida e de coragem para tentar mudar o que se é estabelecido por uma instituição: seja de ensino ou até mesmo pelas imposições atuantes do Estado Nacional Brasileiro.

Para além do que já foi dito, chego a um pensamento bastante particular e até mesmo pejorativo: de que ensinar ao aluno, dialeticizar sobre a sua realidade vivente, o seu meio onde vive e convive (mora); saber a política que é implantada em seu bairro, cidade, escola; construir um discernimento crítico sobre essa realidade, pensando, sendo agente histórico mutável e, portanto, capaz de modificar essa realidade elitista, seja ela em todas as instâncias em que permeiam (cultura, educação, família, religião, etc); são tarefas em construção tanto do educador como do educando, pois, somente uma educação multidirecional, ampla, espontânea; será capaz de transformar essa realidade neoliberal que se encontra em nosso país.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Ed. Paz e Terra, São Paulo, 1996.

Proclamação da República - assim é que se conta.

Nesta quarta dia 15 de novembro iremos comemorar 117 anos da tão proclamada República. Foi um acontecimento que sepultou definitivamente a Monarquia brasileira e implantou uma nova forma de governar que até hoje perdura com todas as modificações sofridas. Mas como acontecerem esses fatos? A monarquia aconteceu de supetão? É o que iremos ver logo abaixo.

A monarquia já vinha sofrendo revezes, desde a Guerra do Paraguai que a política centralista de D. Pedro II já vinha sendo questionada pelos militares e vai se reforçar quando o monarca, autoritariamente, manda prender bispos e até coronéis do exército – é o que chamamos questões religiosas e militares.

D. Pedro II vivia num regime Parlamentarista diferente aos incrementados na Inglaterra, aqui quem mandava e desmandava era Pedro, este não obedecia à hierarquia das esferas de governo, sendo ele mesmo o Chefe de Estado e o executor. Os partidos, que eram apenas dois, conservadores e os liberais, se revezavam no poder conforme a conveniência de Pedro II, ambos falavam a mesma língua, não se divergindo em quase nada ideologicamente.

Em 1888, ano em que foi consagrada a libertação escravocrata negra – uma luta conquistada pela luta dos negros, abolicionistas, republicanos, intelectuais e pela vontade dos ingleses em ter mais consumidores em variantes lugares – os fazendeiros (elite econômica) que perderam a sua mão-de-obra e não viram a restituição pela perda deste, queriam também uma mudança de governo, já que o próprio Monarca fazia vista grossa por essa camada social. O povo nada tinha e nada poderia mudar a sua classe social (mobilidade social) ficando a mercê dessa política segracionista e elitista. Os imigrantes viviam num regime de parceria de exploração em que não vislumbravam em pouco tempo ter sua terra para cultivo – plano mirabolante enaltecido pelo Governo Parlamentar de D. Pedro II. As mulheres viviam submissas aos seus machos (patriarcalismo) e subserviente aos familiares, não tendo a chance de escolher se quer o seu próprio destino.

Esse era o cenário do Brasil em meados do século XIX. Com a política externa de D. Pedro sendo suplantado pela inglesa e os investimentos tendo ascendência apenas pelo café, o Brasil se via metido em crises e mais crises no governo de Pedro II. O estopim foram as prisões arbitrárias a mando de Pedro em que os militares se viram desqualificado por seu superior. Estes queriam que o primeiro ministro de D. Pedro II, o Visconde de Ouro Preto, fosse posto pra fora, estava envolvido em desvio de verbas dos recursos que se destinariam para os militares. O Clube Militar (uma organização do alto escalão do exército e de ilustres pessoas econômicas que discutiam sobre os rumos políticos que o Brasil tomava) estava em reunião e convida o baiano Rui Barbosa para palestrar e iniciar as solenidades.

O chefe do Clube Militar era o Marechal Deodoro da Fonseca que tinha pavor do Primeiro Ministro do governo de D. Pedro II. Deodoro era monarquista, amigo de D. Pedro II, porém, não estava contente como esse governo vinha agindo. Rui Barbosa também não suportava o Primeiro Ministro, aliás Rui era progressista e republicano, queria ver o Brasil se industrializando, tinha um plano para o desenvolvimento do país. Rui Barbosa em seu discurso fala dos problemas em que estavam envolvidas a Monarquia e a falta de plano de desenvolvimento para o Brasil, culpa também o primeiro ministro por está envolvido em fraudes e ser conivente com D. Pedro II.

O movimento republicano cada vez mais crescia e tomava corpo no Brasil. O Partido Republicano Paulista (encabeçados por bases da elite paulista) exigia mudanças, a Igreja de certa forma não queria que o monarca se intrometesse mais com as questões clericais (beneplácito e o Padroado), o exército queria de imediato um país cuja semelhança com o Paraguai, antes da guerra, seria de bom agrado. Isto quer dizer que D. Pedro II estava sozinho, sem apoio expressivo e sua derrocada era questão de tempo.

A Marinha do Chile vai ser hospedada no Brasil, em que seria a última manifestação festiva da monarquia. Convidam mais de cinco mil pessoas e o Marechal Deodoro não pode ir devido a uma indisposição de saúde.

Rui Barbosa e benjamim Constant espalha um boato de que Deodoro estava preso a mando de D.Pedro II e seu executor o primeiro ministro. Os quartéis se revoltaram, e no dia 15 de Novembro de 1889 as milícias foram cercar o Palácio Central do governo de D. Pedro II, exigindo a renúncia e a soltura do Marechal. Sem saber o que se passava, o Visconde de Ouro Preto fica estupefato achando que o exército na rua era sinal de revolta popular e que eles estavam lá para salvaguardá-lo. O Marechal Deodoro da Fonseca aparece de supetão e grita que está Proclamada a República Federativa do Brasil.

D. Pedro II, ex-monarca, estava em Petrópolis e quando soube, vem de imediato pro Rio de Janeiro, ao chegar recebe um comunicado que ele não é mais monarca e deve, junto a sua família, se retirar do país, ser extraditado. A bandeira da República foi feita nas pressas, quase igual a dos Estados Unidos, e o povão estava na rua sem saber o que se passava, não entendiam o que era República, ou seja, a República brasileira surgiu sem projetos, sem participação popular, sem ouvir as bases, diferente de outros países da América Latina e Europa. Não houve um movimento em que os civis pudessem estar no poder, tanto foi assim que o primeiro Presidente imposto do Brasil será um militar – o Marechal Deodoro da Fonseca.

Por: Wagner Freitas.

Não é esse o primeiro momento que eu escrevo pra falar sobre a década de 80. Antes mesmo eu já tinha pronunciado em forma de texto sobre essa maravilha que foi a década de 80 do século XX. Todos que tem mais de 27 anos se lembram um pouco desse período maravilhoso em que presenciamos inúmeros acontecimentos.

Muitos intelectuais já pensaram sobre a década de oitenta, intitulando como sendo a década perdida, assim também pensou Raul Seixas que em uma de suas músicas ele já dizia “ei anos oitenta charrete que perdeu o condutor”. Pode até ser praqueles que já eram adultos, formados intelectualmente e viviam com utopias enraizadas nos períodos de 60. Mas pra nós crianças, essa foi uma década que se pudéssemos nunca sairíamos de lá.

Eu com meus 8 a 10 anos de idade adorava ver imagens de Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, ver Balão Mágico, Trem da alegria, desenhos como as aventuras de cacá, Caverna do Dragão, Spectreman, Ultra Raios, Jaspion, he-man, Shera, Snoop, Smorf, Liga da Justiça, assistir Clube da Criança, ver seriados como Ilha da Fantasia, Esquadrão Classe A, Os Gatões, Incrível Hulk, O Homem Biônico e a Mulher Biônica, Manimal, Magaiver, entre outros dos quais não me lembro neste momento. Foram momentos que não saem da minha cabeça e que foi bastante expressivo para as formações das crianças naquele momento. Comparando com os desenhos atuais, quase não se ver filosofia de vida, como na época em que assistíamos O pequeno Príncipe, hoje as imagens são mais rápidas e a força supera o pensamento – veja quantas cenas de violência tem os desenhos e filmes contemporâneos.

A vida era um mar de rosa (da Pantera Cor de Rosa), gostávamos de brincar com as coisas da natureza, claro que não deixávamos de lado as tecnologias da época, como por exemplo, os Ferrorama, Atari, Playmobil, aquaplay, Pogobol, mas também priorizávamos o pião, a gude, a pipa, a gangorra, Pega-pega (ou esconde-esconde), ou seja, a rua também era a nossa extensão.

O que se percebe hoje em dia é uma nostalgia ou mesmo um saudosismo de uma época de alegria e muita felicidade. Em vários lugares estão acontecendo o que chamamos fenômeno Ploc – ou seja, todos estão querendo rever, ouvir, falar a respeito e até mesmo participar das festas da década de 80. Surgem sits (remember 80) blogs, comunidades no orkut, retratando momentos que naquele período surgiram, como novelas, seriados infantis (Sítio do Pica Pau Amarelo), comerciais, figurinhas, brinquedos, entre outras variedades de fenômenos. Existem até mesmo livros que retratam a década de 1980, não somente enfocando o Brasil , como também o mundo.

A vida segue e percebemos que agente também cresce e logo também iremos constituir famílias e sabemos que os nossos filhos (aquele que quiser ter é claro) irão ter o tempo deles, a curtição deles e quisá serem alegres e felizes como foram os nossos. Para aqueles que viajaram no Zumti-Plac-Zum avisamos a Raul: não fomos a lugar nenhum, mas tivemos a felicidade de ver e curtir um pouquinho de sua cabeça maluco beleza. Que surjam mais graciosidades como tempos outrora, mas que para nós jamais serão como as maravilhas da década de 80. Fica aqui a frase que resume tudo o que dissemos sobre a década de 80, está no LP do Balão Mágico: “amigos pra valer você e eu”, isso é o que desejamos para todas as crianças e as pessoas do bem. Que o balão e a mágica das crianças continuem nos levando por todos os rincões deste lindo planeta chamado terra.

Por: Wagner Freitas.

A ONU prevê que em 2005, 51% dos pobres do mundo estarão concentrados na África e a escassez de água, que afeta 300 milhões de africanos, é vislumbrada como um novo ímã de conflitos, segundo a FAO – dois terços dos rios africanos são compartilhada por mais de um país. Essas são as expectativas para o berço da Humanidade que é a África. (E eu aqui em minha casa vendo a água da torneira e da descarga indo pelo ralo).

Não se espante se você ouvir falar em Áfricas e não em África, porque África é um continente cheio de países africanos e muitos ainda continuam em conflitos bélicos. Mais de 100 mil crianças soldados carregam um fuzil em alguns cantos da África. Dos 13 milhões de mortos no mundo por conflitos de grande escala, 12 milhões são africanos, segundo as Nações Unidas. Locais como Nigéria, Sudão, Somália, Uganda, República do Congo, Costa do Marfim e Burundi, estão em guerras ou em ameaças de conflitos constantemente.

De 1993 a 2002, o continente aumentou em 24% o gasto com armamentos, segundo dados do centro de pesquisa sueco Sipri, e seis países continuam destinando recursos mais ao Exército do que à educação. Os gastos em saúde pública na maioria desses lugares são irrisórios, faltam de tudo e muitos morrem a míngua por não ter como e onde os socorrer. As causas dos conflitos variam, mas há características comuns: instituições débeis, governos ruins, autoritarismo, pobreza, desigualdade e exclusão das minorias. Tudo isso tem um elo: o petróleo e as riquezas minerais. Além do petróleo, na África se encontram dois terços dos recursos minerais do mundo (diamantes, ouro, platina). E tem mais, grupos ligados ao G8 (países mais ricos do mundo, incluindo a antiga União Soviética) financiam criminosos de guerras na África fornecendo armas. É a indústria do armamento a serviço da guerra, sem guerra não se vende armas.

No informe da ONU de 2002 sobre o conflito da República do Congo, 29 empresas foram acusadas, quatro delas da Bélgica, de contribuírem para a continuação do conflito e outras 85 – destas, 45 ocidentais – de fazerem negócios na zona da guerra sem respeitar nenhum código ético. Outro órgão estrangeiro Human Rights Watch, em outro relatório sobre o Congo, alerta o mundo de que “multinacionais interessadas na extração de ouro estabeleceram relações com senhores da guerra e autores de matanças”, e que estes têm ajudado determinada empresa a “achar jazidas minerais ricas em ouro”.

Essa procura pelo ouro vem desde os tempos do colonialismo começando com os ingleses e se estendendo a vários países da Europa. Não respeitaram nada dos africanos. Cultura, crenças, manifestações artísticas, rituais, danças, formas de governos, foram devastados com as inúmeras mortes destes povos. Fizeram da África um território rural cercado – é o que nós chamamos de Partilha da África. Os europeus, com suas ideologias doentias de inferioridade racial, justificaram as suas ações para anexar territórios africanos. O terrorismo étnico-racial foi colocado em prática e muitos povos da África foram vitimados pelas ideologias retrógradas a respeito do biótipo humano. Achavam que estudando crânio humano, saberiam identificar se determinadas pessoas eram propícias ou não ao crime, e chegavam à conclusão que o cérebro dos africanos eram anormais. Pronto, a ciência em prol do crime.

Mas também existem na África países ricos e com índices econômicos de não meter inveja a países das Américas. Na África existem faunas e floras surpreendentes, riquíssimas de ecossistemas. Tem lugares que existe abundância de água, outros que nem existem, tem desertos, savanas, pirâmides, enfim, é um bonito lugar pra se visitar e respeitar. Somos descendentes dos africanos e temos uma gama de genes compartilhados com eles. O Brasil deve muito a esse povo, tanto em contribuição cultural, como nas mazelas que nós fazíamos.

Temos que olhar a África com outros olhos, percebendo as diferenças de povos, as suas dificuldades e seus anseios, reaprendermos com as suas filosofias de vida, o tratamento com a natureza, a lembrança dos antepassados contados pela oralidade, respeitarmos as suas riquezas minerais e territoriais; isso tudo levará para um reordenamento das disparidades sociais, políticas e culturais. África no plural, Brasil no singular, essa tem que ser a máxima. Achar a nossa identidade observando as pluralidades da nossa mãe África.

Sugestão: Assistam ao filme Hotel Ruanda é hiper atual.

Por: Wagner Freitas.

Como poderemos definir uma guerra justa? Esse tema me chamou atenção quando vi na capa da revista Veja dessa semana (6/08/2006) essa indagação. Será realmente que existe uma guerra justa? Uma guerra pode ser justa? Ou ao contrário, a guerra é injusta pra quem? Essas são interrogações que pretenderemos desvendar, ou senão, refleti-las.

Desde que o mundo é mundo existiram conflitos entre espécies diferentes ou da mesma espécie. Foi assim com os dinossauros, é assim com todo o eco-sistema global seja ele vegetal ou não. Os botânicos chamam de relações harmônicas e relações desarmônicas os conflitos entre espécies. As espécies são assim, buscam permanentemente a sua perpetuação. E não podia deixar de ser também com os homens; porém existe uma ressalva: nós seres humanos temos o poder do discernimento e é isso que nos atribua como sendo espécie racional. Mas essa racionalidade nos parece que tem limites que ao ser transgredido saímos do eixo e cometemos atos criminosos.

O conflito é o outro eu ainda não revelado, é a manifestação do meu eu negativo, pois em uma sociedade temos que viver com leis, regras e quando as transgredimos revelamos um outro lado do eu que não costuma está a todo tempo revelado. Por isso temos que constantemente equilibrar essa revelação transgressora, somos, desde pequenos, educados em sociedade e em família, para nos polir ou frear essa nossa transgressão humana. Impõe-nos o que devemos e o que não devemos fazer em sociedade, o que é lícito e o que não é lícito fazermos, e isso vai de cultura pra cultura. E quando saímos da “normalidade” somos advertidos/penalizados pelos pais e pela sociedade.

Mesmo na Bíblia desde a criação do homem com Adão e Eva existiram conflitos e de lá pra cá, segundo interpretações bíblicas, depois que o homem conheceu o pecado, vive também nele. O homem além de transgredir a sua espécie, aniquila as outras. O porquê disso é a essência da questão. Mesmo as instituições religiosas (cristianismo, maometanos, judeus...) já se envolveram em conflitos e muitas até hoje são causas de extermínio entre irmãos. A Igreja Católica matou e apoiou a violência em nome da “guerra justa”, assim, como também, os protestantes e muçulmanos. A questão de ser justa ou não justa é apenas ponto de vista. Quem entra na guerra sempre tem justificativas que o induzem a pensar que são os certos e estão no caminho correto e justo. E quem não pensa assim ou não comunga com essas idéias são sujeitados a cruéis violências, guerras e mortes. As nações caminham para a barbárie? Essas perguntas não têm respostas imediatas apenas análises aposteriori.

O mundo assiste bestializado o conflito histórico, étnico, religioso entre nações israelitas e libanesas. Ambições múltiplas estão em jogo: petróleo, poder político, revanchismo, domínio religioso e fanatismo, território, uma globalização de interesses envolvendo países orientais e ocidentais. E, nesse meio todo, estão os civis que tentam sobreviver, civis que fogem e civis que já não estão mais entre nós. Crianças e mulheres mutiladas, dores das mães e dos pais ao perder um ente querido, choro com e sem lágrimas, e nós apenas assistindo em nossas casas tais agressões humanitárias, aceitando e convivendo, como um hospede qualquer, a violência mundial.

Enquanto houver guerra a justiça sempre será dúbia e visões múltiplas assinalarão respostas. O homem é o maior predador da cadeia viva, o planeta iria se sair muito bem sem a presença humana. A ganância, ambições, a busca de poderes, o dinheiro, todos esses elementos conduzem a destruição humana, e o pior, a todo o planeta. Nenhuma guerra por ser já uma guerra é plena de ser denominada de justa, se houver dor e morte, perde-se o valor de se ter uma guerra. Mas como já dizia Michel Foucautl “a política é a continuação da guerra por outros meios”. Guerra e política andam de mãos dadas, no momento de uma guerra existem atos políticos e existindo atos políticos há também uma guerra no meio.

Somo seres politicamente envolvidos nas determinações governamentais. O Líbano, países africanos, Índia, Iraque, América Latina, todas as nações ou povos pedem socorro por causa dessa globalização desenfreada, ou melhor, globocolonização. As fronteiras não existem quando o capital perfura as veias humanas de inúmeros lugares que não tem poder econômico planetário. Somos vítimas do capital especulativo, do roubo às nossas riquezas naturais, da massificação do consumo e do comportamento, destroem nossos patrimônios culturais, hipnotizam-nos com modismos e culturas advindas de lugares que não nos pertencem. Enfim, parece realmente que a máxima dita por Foucault está se comprovando – a paz faz surdamente a guerra.

Por: Wagner Freitas.

Já não é a primeira vez que escrevo sobre esse tema – o São João de Ibicuí. Se vocês observarem no site irão ver uma matéria que fala sobre os problemas que o São João enfrenta com o advento da modernidade e das mudanças culturais. Sei que a cultura se transforma dialeticamente conforme as mudanças grupais e de comportamento, a juventude hoje tem uma forma de enxergar o mundo completamente diferente da nossa geração dos anos 80. Por isso o nosso saudosismo pelo antigo, que acreditamos que seja o bom, o melhor. O São João para alguns e inclusive esse autor, se torna admirável e eloqüente quanto ele chega quase aos seus primórdios, com fogueira, bandeirolas, quadrilhas, palhas, sanfoneiros, zabumbeiros, e músicos comprometidos com o forró de qualidade, intitulado hoje forró pé de serra.

Realmente recordo-me com alegria aqueles tempos que já dava indícios de “seu fim”. O São João de minha terra já no final da década de oitenta, dava a entender que o modernismo iria entrar em suas veias e dilacerá-los. Minha geração conseguiu ainda pegar esse tempo de glória e de boa música cantadas por banda como Embalo 4 de Jequié-BA, em que seus repertórios eram recheados de baião, xaxado, galope e xote. Para quem não sabe, vou relatar como era mais ou menos naquela época.

A festa começava já de tardezinha, por volta das 17:00, estávamos já a brincar na praça cheia de gente de vários lugares, brincávamos de bombinhas de estrala bebé, chuveirinho, traque, entre outros dos artigos de crianças. Neste momento já existia um barracão e dentro já estava exposto uma banda cantando pra alguma quadrilha se apresentar. Porque naquele tempo, existiam quadrilhas de variadas faixa-etária e vindas de colégios diferenciados. Eu já até participei de quadrilhas pela escolhinha QUAQUÁ – mudaram seu nome, infelizmente, para Justiniano Galvão. Era uma multidão de pessoas se amontoando para ver as apresentações dentro do barracão. Era uma honra poder dançar representando a nossa escola e para um público amontoado, claro que tínhamos medo de errar e também, receio, de que na hora de dançar a cadeirinha, nenhuma menina não nos tirasse.

Tinha também uma festa paralela e que acontecia mais tarde no clube ACBI (Associação Cultural Beneficente de Ibicuí). Esse era para gente grande, iam pessoas de variadas classes sociais, mas em grande escala composta por uma elite econômica. Lá era a coqueluche, onde as bandas mais afamadas também tocavam; inclusive a Embalo 4. Neste momento da festa, que acontecia por volta das 0:00 estávamos já a dormir. Eu, no meu caso, com alguém a me vigiar, pois meus pais eram freqüentadores da festa.

As barracas eram de madeiras e recobertas com palhas de coqueiro, tinham fogueira no circuito da festa, pau-de-sebo e quebra pote, ambos eram concorridos de dia e recheados de prêmios. Existiam bandeirolas por toda a parte, as casas eram freqüentadas por variadas pessoas e todos se deliciavam com comidas típicas e bastantes bebidas da época. Tinha também seu Benício, avô de Bruno, meu grande amigo de infância, que adorava soltar balões e agente corria para sua casa apreciar esse belo espetáculo.

Mas como dissemos antes, as coisas mudam, e hoje vemos tudo deferente, o cenário já não é mais o mesmo, o que restou foi apenas o local e ainda persiste algumas bandeirolas que não sei até quando irá resistir. Bandas são outras, sumiram com a tradição da festa, como diz alguns moradores mais antigos, hoje a festa já não é mais junina e sim uma festa pra jovens vim ver. Sumiram tudo, parece que o balão levou com ele todas as tradições e a boa música. Ficaram as migalhas e que é chamado de novo. Criam-se toldos, camarotes, palcos grandiosos, potenciam os sons, cobram-se de barraqueiros, fazem blocos, segregam pessoas, encarecem a festa (a empresa pública encabeçado pela prefeitura não suporta mais esse tipo de financiamento para a festa). Mas é assim que a juventude quer, ver megas shows, ver as calçinhas acoplados com os arrochas e tudo que é de novo.

Tudo indica que estamos mesmo caminhando para o empresariamento da festa, que antes era pública no mais apurado sentido do nome. Eu já anuncio, para mim mesmo, que no futuro próximo, bem próximo, a festa vai ser financiada pela empresa Bahia Tursa e seus séqüitos. Aí veremos que nela será o espelho do Arraiá da Capitá. Tudo recheado de espetáculo e acessível pra poucos. Iremos ver a nossa principal praça ser fechada com madeirite e quem quiser ver a festa terão que reembolsar uma quantia diária ou comprar um pacote pra ver os megas shows e as inúmeras luzes de variadas cores.

Essas são reflexões, sem nenhum cunho científico, com aquilo que eu tenho como sendo de bom agrado e de bom valor – como, por exemplo, escutar músicas de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Dominguinhos, entre muitos outros do mesmo quilate. Adoro minha terra e esse espírito junino, não os deixo jamais, custe o que custar, mesmo se vier a acabar eu quero ficar na praça, se assim Deus me conceder, sentado, ouvindo uma vitrola e tomando licor, relembrando aqueles velhos tempos que podíamos dançar e ouvir uma linda música, acoplado de sentimento e letras arrojadas. Espero que isso não aconteça, que enxerguemos mais profundamente, que possamos revitalizar esse antigo-moderno São João, com outras roupagens, mas sem perder a essência de que festa boa mesmo é quando ela significa muito mais do que arranjar beijos e transas ao vento: ela deixa marcas de saudades e admirações artísticas.

Por: Wagner Freitas.

Quando falamos em Unidade Nacional, remetemos ao chamado nacionalismo. A história de vários povos europeus, asiáticos, africanos, norte-americanos e sulamericanos, mostra a dura batalha da construção de uma Nação ou Estado ou País.

No Brasil que temos uma história bastante peculiar – esse processo se estendeu através de grandes conflitos étnicos – sociais. Para unir os “vários pedaços” do Brasil e transformá-lo num único país, grupos políticos se desentenderam, revoluções arrebentaram, reinvindicações foram feitas, brasileiros morreram e o governo se endividou. Basta observar os movimentos sociais contestatórios da época regencial (1831/40): Farroupilha, Sabinada, Balaiada, Cabanagem e Malês.

O Brasil se “estruturou” fisicamente através de ferro, trapaças, conchavos e roubalheira por parte das elites que objetivavam arregimentar ainda mais as suas fortunas. Mesmo querendo unificar o território e costumes, os brasileiros resistiram e apesar de falarmos a mesma língua, apenas traduz os anos de dominação portuguesa.

Resistimos e continuamos a resistir sobre qualquer tentativa de reprodução de único pensamento. Temos costumes diferenciados, sotaques incomuns, ritmos descompassados, isto é, culturas polonizadas. Essa busca pela Unidade Nacional durante o século XIX não solucionou os problemas do povo brasileiro, continuávamos atrelados as grandes capitais, senhores de terras, ao poder centralizado na capital, vendo o seu povo cada vez mais ismuecido do seu direito de viver dignamente, tendo as amarras das elites econômicas e de suas idéias unificadas.

Por: Wagner Freitas.

O mês de maio começa com um grande acontecimento que é justamente analisarmos o dia do trabalho e fazermos inúmeras indagações sobre esse dia. Um dos maiores problemas que enfrentamos ainda é o fenômeno do desemprego. As grandes maiorias dos brasileiros sofrem para ter o emprego e principalmente ter estabilidade no seu emprego. São vastos os problemas de emprego-desemprego neste imenso território. Outro momento crucial deste mês é o dia 13, tido pelo calendário oficial como o dia da abolição da escravatura. Esse é outro fato que merece ser esclarecido e ampliado – quais as formas de escravidão que vivemos hoje? Tivemos também a greve de fome do futuro candidato a presidente da república pelo PMDB o Antony Garotinho, a escalação oficial da seleção brasileira de futebol e por fim até o momento as ondas de violência causadas pelas hordas carcerárias de São Paulo e os delinqüentes marginais do tráfico. O objetivo é tecermos um pequeno comentário sobre esses episódios do mês de maio de 2006.

O dia do trabalho foi difundido no mundo devido aos protestos ocorridos nos Estados Unidos no final do século XIX. No dia 1 de Maio de 1886 realizou-se uma manifestação de trabalhadores nas ruas de Chicago nos Estados Unidos da América. Essa manifestação tinha como finalidade reivindicar a redução da jornada de trabalho para 8 horas diárias e teve a participação de centenas de milhares de pessoas. Nesse dia teve início uma greve geral nos EUA. No dia 3 de Maio houve um pequeno levantamento que acabou com uma escaramuça com a polícia e com a morte de alguns protestantes. No dia seguinte, 4 de Maio, uma nova manifestação foi organizada como protesto pelos acontecimentos dos dias anteriores, tendo terminado com o lançamento de uma bomba por desconhecidos para o meio dos policiais que começavam a dispersar os manifestantes, matando sete agentes. A polícia abriu então fogo sobre a multidão, matando doze pessoas e ferindo dezenas. Estes acontecimentos passaram a ser conhecidos como a Revolta de Haymarket.

Três anos mais tarde, a 20 de Junho de 1889, a segunda Internacional Socialista reunida em Paris decidiu por proposta de Raymond Lavigne convocar anualmente uma manifestação com o objetivo de lutar pelas 8 horas de trabalho diário. A data escolhida foi o 1º de Maio, como homenagem às lutas sindicais de Chicago. Em 1 de Maio de 1891 uma manifestação no norte de França é dispersa pela polícia resultando na morte de dez manifestantes. Esse novo drama serve para reforçar o dia como um dia de luta dos trabalhadores e meses depois a Internacional Socialista de Bruxelas proclama esse dia como dia internacional de reivindicação de condições laborais.

A 23 de Abril de 1919 o senado francês ratifica o dia de 8 horas e proclama o dia 1 de Maio desse ano dia feriado. Em 1920 a Rússia adota o 1º de Maio como feriado nacional, e este exemplo é seguido por muitos outros países.

Pois bem, depois desses acontecimentos históricos e analisando hoje em dia, percebemos que muita coisa mudou em relação à jornada de trabalho e direitos trabalhista – no Brasil Getúlio cria as leis trabalhistas. Mas problemas novos foram também surgindo com as transformações do trabalho moderno, é o caso de quem trabalha com o computador, essa máquina que moldou os trabalhadores a se aperfeiçoarem na área e com ela também vieram doenças como a Le (doença criada por esforços repetitivos). Mas muito está para ser feito nesse campo, como a proposta de redução da jornada de trabalho para contratarem mais trabalhadores e diminuir o mercado informal que assola o nosso país.

Associado a isso, ou seja, além da luta de classe, existe também a luta social. As pesquisas mostram que no montante sobre o desemprego, são os negros que compõem a maioria. Aqui a luta pela sobrevivência é muito mais do que competição de classe, passa também pela discriminação, racismo e pelo preconceito de cor. Fica mais difícil ainda arranjar um bom emprego e viver bem – se que existe isso no nosso país – se for mulher-negra, mulher-nordestina e mãe-solteira. A escravidão de hoje tem outros rompantes, é como diz o jornalista Marcel Leal, do jornal A Região de Itabuna BA:

“Ontem os escravos eram bem definidos: negros vindos da África, vendidos por outros negros aos brancos que faziam o transporte até o Brasil.

Hoje a escravidão continua, mas disfarçada e com formas variadas. Existe muito trabalho escravo, vitimando brancos e negros em fazendas (até de deputados) e empresas.
Existem os escravos da corrupção, que não vivem sem receber ou pagar uma propina, sem ganhar em cima da perda da sociedade, sem receber vantagens que não merecem.
Existem os escravos da moda, que não podem viver se não comprar o vestido de grife, se não botar o piercing, se não fizer a tatuagem, se não usar a roupa certa.
Existem os escravos do consumo que "precisam" ter o carro de luxo, a TV de plasma, a boneca que fala, a geladeira que acessa a internet, o tênis que pisca.
Existem os escravos da vaidade, que fazem plásticas quase mensais, que tiram a barriga no bisturi, que desfilam o colar de ouro mesmo se arriscando a perder a vida num assalto.
Existem os escravos do poder, que não vivem sem bajular um poderoso, sem lamber as botas de um coronel, sem agradar corruptos eleitos.
Existem os escravos da inveja, que não suportam a vitória dos outros, mesmo que sejam amigos, que torcem para que tudo dê errado, para o fracasso.
Existem os escravos da falta de fé, que não crêem em vidas futuras.
Existem os escravos do orgulho, que se acham mais que todo mundo.
Para eles nenhuma lei áurea dá jeito, não podem se salvar a não ser mudando e quebrando os grilhões mentais que os seguram.
Por isso não vou falar nada sobre o Dia da Abolição da Escravatura”.

Nesse meio todo teve o Garotinho da Rosinha. O nome é apropriado para a própria pessoa, é realmente um homem por se fazer. Achando-se injustiçado com alguns meios de comunicação, especificamente jornal o Globo e revista Veja, resolve fazer greve de fome em companhia de sua família, no qual constantemente o ajudam, dando-lhe água e esporadicamente soro. O seu partido é dividido, uns apóiam a candidatura dele ou a candidatura única e outros apóiam a não candidatura para a vaga de Presidente da República. Nessa corda bamba o garotinho segue choramingando e querendo apoio dos fies protestantes para seguir sua carreira de bebê chorão. Vamos ver aonde isso vai chegar.

E nesse bojo surge também o que tantos queriam ver e ouvir do técnico da seleção de futebol Carlos Alberto Parreira – os definitivos jogadores que irão participar da Copa do Mundo de 2006. Não foi de muita surpresa o que se viu, na verdade já se esperava o que ele escalou, com exceção de Rogério Cenin (goleiro do São Paulo), Fred (ex atacante do Cruzeiro). Agora é torcer pra ver no que vai dar, acredito que só perderemos a copa se deixarmos levar pelo excesso de estrelismo. É necessário dizer também que mesmo com acontecimentos paralelos, não podemos de criticar os acontecimentos político-sociais que por vier, mesmo se superarmos a copa de 70.

Como a vida não pára para apenas gozarmos dela, surge então os focos isolados de violência em São Paulo. Na verdade esse foco é diário e em todo o estado brasileiro, o que vimos foi apenas uma concentração maior em pouco espaço de tempo e a mídia dando ênfase eloquentemente aos bandidos e seus séqüitos. Analisa-se também que o sensacionalismo evidencia o fato de “heroísmo” dos bandidos, eles se acham importantes, tanto que incomodam a sociedade ordeira. Temos que analisar os fatos mais racionalmente, ver o porquê dessas atitudes, o que eles reivindicam, como estão “vivendo” em suas selas; mas isso também não os dão direito de desesperar a sociedade brasileira e cometendo crimes contra a população. Temos que ser mais enérgicos com as nossas leis, aprovar soluções que viabilizem o bom convívio entre aqueles que comentem delitos e a sociedade que segue seu curso de forma “pacífica”. Não vamos fazer disso um Show de Truman, exibir nas telas sucessos e percas, vitórias e derrotas de ninguém, temos sim que discutir mais afinco sobre essas situações e levantar um amplo debate, associados as mobilizações civis.


Por: Wagner Freitas.

Abril: mês dos aborígines, Cabral e Tiradentes

Professor Wagner Freitas

Data: 29/04/2005

Durante a semana passada estava eu pensando o que escrever para a matéria. Como eu sou maluco de vivência, pensei em fazer um encontro entre os três momentos comemorativos do mês de Abril (dia do índio, achamento do Brasil e Tiradentes). Pensei em abordar essas esferas, representadas pelos Tupi-Guaranis, Cabral e Joaquim José da Silva Xavier. Portanto vejamos.

O que os três têm em comum? Podemos dizer que os três têm uma historiografia falseada devido às ideologias dominantes impregnadas principalmente durante os séculos XVIII e XIX. O século XX também levou essa herança no começo, mais logo depois, foi observada com olhares críticos e revisto os fatos acontecidos.

O Brasil não foi descoberto, isso já não é mais novidade, assim também podemos observar que tanto o índio como Tiradentes nunca foram realmente heróis dessa Nação. O período Romântico do século XVIII europeu tentou vangloriar os seus heróis das tábulas e reinados da Idade Média. Como no Brasil não existiu essa fase da Idade Média, a elite procurou enaltecer o índio como o herói brasileiro (1ª fase do romantismo), a exaltação desse “brasilianíssimo” puro e belo.

Em relação a Tiradentes, no primeiro momento, a classe dominante letrada não via com bons olhos enaltecer a figura desse revoltado, achava que ele seria mau exemplo. Com os idos dos tempos, e com as leituras burguesas de transformação social, procurou-se na figura de Tiradentes o exemplo de homem que lutou contra a dominação portuguesa – que na verdade não foi bem assim.

Já Cabral foi até a pouco tempo tido como o grande homem que descobre o nosso território e tira-nos dessa barbárie natural. O homem que veio para civilizar a nossa gente. O navegador que enfrentou o desconhecido para ir além Tejo. Foi também tido pelos intelectuais como o nosso herói.

O Brasil é cheio dessa ideologia de se ter heróis/reis. Tem que se ter rei do futebol, dos baixinhos, de estilos musicais, entre outros. Vivemos em uma república e ainda se pensa com idéias monárquicas. Essa busca constante por heróis é que faz do Brasil uma nação em construção, e por estar em constante construção busca-se a identidade em alguns exemplos que se destacaram na história.

O verdadeiro, ou melhor, os verdadeiros heróis é o povo brasileiro que até hoje resiste à dominação burguesa, e luta para se ver livre de julgo. Esse povo que busca construir uma Nação plural e democrática, em que as desigualdades e as diferenças econômicas sejam abolidas definitivamente.

Não temos e nem precisamos de heróis, principalmente retratando-se de política. Nunca houve um herói brasileiro que transformasse a condição social do povo brasileiro. Não vivemos em contos de fadas ou romances medievos. Vivemos sim em um país subjugado e dominado por uma elite econômica que não quer ver dividido de forma justa a renda desse país.
O JESUS VISTO PELOS HISTORIADORES

Professor Wagner Freitas

Data: 13/04/2006

Caros amigos desejo-lhes boa páscoa e grandes reflexões durante a Semana Santa. Gostaria de escrever um pouco sobre o grande homem das religiões cristãs. Irei analisar a sua vida como homem, o seu território vivido, a política da época, os costumes, as escritas, o propósito dele, entre outras esferas. Enfim, demonstrarei como era esse homem Jesus e não necessariamente o Jesus “Messias”, seu comportamento social e suas influências intelectuais. Estão a fim de verem novidades, então vamos à leitura e reflitam a luz de suas convicções. Antes de qualquer coisa gostaria de dizer que a maioria das informações contidas nesse texto encontra-se na Super-Interessante, abril de 1996 e Globo Ciência, dezembro de 1997, adaptados por mim.

“Há, porém, muitas outras coisas de Jesus e que, se fossem escritas uma por uma, creio que o mundo não poderia conter os livros que se escreveriam” (João, 21, 25).

Falar de Jesus é grandioso e ao mesmo tempo uma responsabilidade dobrada, devido a tudo o que cerca em relação a esse nome. Demanda estudo e reflexões além da Bíblia. Vejo-me bastante tranqüilo a esse respeito, pois acho que Cristo foi um dos revolucionários da história mundial, ao lado de grandes nomes registrados e ocultados pela história. Em se falando de ciência e a História também se comporta como tal, sabe-se muito pouco sobre Jesus. São tão ocultas as fontes sobre ele que não são poucos os estudiosos que se enveredam neste campo de pesquisa. Mesmo assim, é grande o número de pesquisadores dedicados a esse assunto. As pistas são precárias e cheias de controvérsias, mas apresentam novas respostas-perguntas sobre o Jesus Cristo[1].

Começamos então a falar do cenário histórico-político a época de Jesus. Jesus Nasceu antes de Jesus, não é doideira não. Explico melhor: segundo estudiosos “Cristo só nasceu no dia 25 de dezembro por obra do papa João I, que decretou a data do Natal no ano de 525[2]. Mudava ali o calendário cristão. O Monge Dionisio Exiguus, incubiu de determinar o ano zero, errou nos cálculos. Segundo Lucas e Mateus, Jesus nasceu ‘perto do fim do reino de Herodes’. Problemas: Herodes morreu em 4 a.C. Hoje, a tese mais aceita é a de que Jesus tenha nascido no ano 7 a.C, um pouco antes da morte de Herodes”[3].

Quando Jesus nasceu, Israel havia perdido sua independência política. Desde o século 6 a.C., babilônios, persas, gregos e romanos ocuparam sucessivamente a Palestina. Durante o domínio romano os judeus tiveram que pagar inúmeros impostos. No ano 40 a.C, Herodes foi proclamado rei da Judéia pelo Senado romano. Considerado um estrangeiro em Israel, ele era originário da Iduméia, território outrora dominado pelos judeus. Herodes era um monarca detestado. Casou-se com uma princesa asmonéia e a matou. Ele também matou quatro filhos, a sogra e o cunhado. Insultou os judeus construindo templos pagãos e um hipódromo para lutas de gladiadores em plena Jerusalém. Elaborou também obras urbanísticas e arquitetônicas. No governo dele, Jerusalém e várias outras cidades foram reurbanizadas ao estilo romano e embelezadas por palácios, anfiteatros, hipódromos, piscinas e jardins. Quem financiou isso tudo? O povo é claro, pagando pesados impostos.

Quando Herodes morreu, no ano de 4 a.C, o reino foi dividido entre seus filhos Arquelau, Filipe e Herodes Antipas. Jesus viveu num período conturbado. O povo estava insatisfeito e era comum acontecer levantes contra a política romana em Jerusalém, principalmente no século 60 d.C. Na década de 70 d.C, as legiões comandadas por Tito, futuro Imperador Romano, arrasou com Jerusalém. Jesus nasceu sobre o governo de Herodes, ano em que houve 2.000 crucificações na Judéia. Havia grande anseio apocalíptico na Judéia durante o século I. Esperava-se a vinda de um Messias, o predecessor que iria libertar Israel do julgo romano. Com o Messias viria também o fim do mundo, o reino de Deus na terra e uma nova era para o povo escolhido. Profetas maltrapilhos anunciavam o fim dos tempos e pregavam a salvação. Fora isso, um grupo chamado Zelotes, organizava atentados contra os romanos, planejando a revolta liderada pelo Rei Messias.

Essas novas informações foram possíveis graças a achados feitos por arqueólogos e que fazem um estudo minucioso, confrontando com outros ramos do saber (história, teologia, lingüística, filologia etc.). Como exemplo em abril de 1992, em uma gruta do sítio arqueológico de Qumram, situado às margens do mar Morto, perto da cidade de Jericó, na Palestina, foi encontrado um fragmento de papiro (os chamados Manuscritos do Mar Morto), datado de 50 d.C. A leitura do texto, em caracteres gregos, não davam margem de dúvida: tratava-se de uma conhecida passagem da vida de Jesus narrada no evangelho de Marcos. Essa descoberta derruba definitivamente a idéia de que os evangelhos são obras tardias, separadas por várias décadas dos fatos narrados, e por isso, pouco confiáveis.

Os especialistas acham que, antes de qualquer registro escrito, consolidou-se, muito cedo, uma tradição oral acerca da vida e da mensagem de Jesus. À medida que as testemunhas oculares dos acontecimentos começaram a morrer, as comunidades cristãs primitivas sentiram a necessidade de fixar essa tradição por escrito.

Os quatro evangelhos (Marcos, Mateus, Lucas, João) foram redigidos em grego, o idioma predominante entre os judeus que viviam na Palestina. Porém, segundo Papias (60/135 d.C), bispo da cidade grega de Hierápolis, Mateus escreveu primeiro “em língua hebraica”, sendo depois traduzido para o grego. O que Papias chamou de hebraico era, mais provavelmente, o aramaico, idioma falado na Palestina desde o século 6 a.C. Jesus não falava com o povo em hebraico, como muitos pensam, mas sim em aramaico.O hebraico era considerada uma língua sagrada, era utilizada apenas nos ritos religiosos. Já o aramaico é um idioma do grupo semítico, originário da Alta Mesopotâmia. A partir dos últimos reinados assírios e persas, do século 6 a.C, ele se tornou uma língua internacional, utilizada principalmente no comércio. Jesus além de hebraico e aramaico, falava também grego – considerado o inglês da época – introduzido na Palestina em 332 a.C, com a expansão de Alexandre Magno.

De acordo com as pesquisas Jesus não nasceu em Belém, na Judéia, mas em Nazaré, na Galiléia, no norte de Israel. Para a maioria dos pesquisadores os reis magos, o presépio e a estrela de Belém são invenções dos evangelistas para identificar o nascimento de Jesus com a vinda do Messias, que já era anunciado no Velho Testamento. Os estudiosos também sabem que os evangelhos oficiais da Igreja (os quatro anunciados anteriormente) dão mais testemunhos de fé do que da verdade histórica. Esses evangelhos apresentam discrepâncias e contradições inconciliáveis. Para resolvê-las e ajustar o foco da ciência sobre o chamado Jesus histórico, as próprias instituições religiosas financiam estudos e mais estudos. O que cada vez fica provado é que o os quatros evangelhos oficias da Igreja do Novo Testamento não foram escritos por seus autores. São, muitos provavelmente, compilações de mensagens anônimas ou atribuídas aos apóstolos, orais ou escritas, dos séculos I e II. Os nomes dos quatro evangelistas apenas identificam conjuntos de ensinamentos escritos e reescritos pelas comunidades, sucessivamente[4].

Outra revelação interessantíssima é que o Novo Testamento foi escrito em grego – língua culta. Cristo é uma palavra grega (o ungido) e a primeira capital mundial da cristandade não foi Roma, e sim a grega Constantinopla. Até o século IV, a missa, em Roma, era celebrada em grego. A popularidade do Novo Testamento aconteceu com a propagação do latim feita por São Jerônimo, na Palestina, século V. Durante séculos e séculos, os monges copistas reproduziram esses textos a mão, às vezes reelaborando-os segundo as conveniências da doutrina. Alteraram não só o Novo, como também o Velho Testamento[5].

E quem foi Jesus? Como viveu? Aonde andou? Jesus era filho de um carpinteiro e portanto herdado os dotes dele. Ser carpinteiro naquela época era ser pedreiro, serralheiro e carpintaria propriamente dito, isso deriva da palavra grega tékton usada por Marcos. O que significa isso? Que Jesus era trabalhador autônomo, exercendo diversas habilidades profissionais. Alguns autores imaginativos acreditam que Jesus em busca de conhecimento intelectual chegou até civilizações do Extremo Oriente – Índia e o Tibete. Não há nada que comprove ou desminta esse feito, sendo mera idealização desse gênero literário. Jesus era culto, pois era quase impossível encontrar judeu analfabeto. Por força da tradição, o menino precisava ser alfabetizado, pois, ao completar 13 anos, devia comparecer à sinagoga e ler uma passagem da Bíblia, durante a cerimônia do Bar Mitzvá, na qual se tornava responsável por todos os seus atos. A educação básica, restrita ao sexo masculino, compreendia a leitura e a escrita, a história do povo judeu e o conhecimento dos salmos, adotado como orações. Em relação a estudos superiores, tudo leva a crer que ele não teve acesso a uma educação com um rabino, seu estrato social não permitia. Sobre o celibato, tudo leva a crer que Jesus era realmente solteiro; porém o comum era que tanto rabino ou mestre e um judeu religioso, constituíam famílias.

Sabe-se por terceiros que Jesus foi batizado,curou, ressuscitou, foi tentado pelo Diabo no deserto, fez milagres, andou pelas águas, multiplicou comida, fez abundância na falta de vinho, aglomerou peixes para ser facilmente fisgado, entre outros. Jesus não era loiro, de olhos azuis e traços europeus. Ao contrário, possuía as feições dos semitas (antigos judeus, árabes, outros povos do Oriente Médio). Isso quer dizer que ele era moreno, de olhos e cabelos castanhos escuros, sobrancelhas grossas e nariz adunco. Os estudos atuais revelam que o Santo Sudário é datado da época da Idade Média, portanto depois da dominação romana, ou seja, o Santo Sudário, para alguns, é uma fraude.

Jesus age num contexto de intensa agitação política. E sua ação converge ou se choca com a de diferentes partidos e seitas. Vejamos alguns deles,

a) Saduceus: grandes proprietários de terras (anciões) e membros da elite sacerdotal, controlava o Sinédrio (Conselho Supremo de Israel) e era correligionários com os romanos;

b) Escribas: tinham autoridade de interpretar as Escrituras. Também tinha influência no Sinédrio, nas sinagogas e nas escolas;

c) Fariseus: tem raízes do hebraico perishut, que significa separação. Os Fariseus se separavam do resto da comunidade judaica porque não cumpria com as regras de pureza prescrita no Torá, em especial no livro do Levítico: eram formados por diversas camadas sociais, principalmente da classe dos artesões e pequenos comerciantes. Eram nacionalistas, esperavam a vinda do messias, que deveria libertar Israel da dominação romana. Acreditavam na imortalidade da alma e na ressurreição do corpo. Essa doutrina influenciou o pensamento cristão;

d) Zelotas: grupo radical da seita dos fariseus, formado por pequenos camponeses e outros pobres da sociedade. Ultranacionalistas, queriam a libertação via arma contra os romanos pagãos. Simão como Judas Iscariotes eram dessa seita;

e) Essênios: sacerdotes dissidentes e leigos exilados, essa seita vivia em comunidades ultrafechadas, nas cavernas de Qumram. Achavam-se os únicos puros de Israel. Eram contra a propriedade privada e ao comércio, valorizava o trabalho manual na lavoura e levavam uma vida comunal. Combatiam tantos os romanos quanto o poder do Templo de Jerusalém. Queriam uma guerra santa para instaurar o reino dos justos. Eles eram apegados aos preceitos de pureza, assim, se afastavam do mundo para não se contaminarem. Acreditavam no batismo na água e na idealização do Messias;

f) Nazarenos: tinha como carro forte a idéia de que Jesus era o Messias e o redentor dos pecados;

g) Mandeísmo: João batista acreditou que Jesus fosse realmente o enviado e batizou-o no Rio Jordão. Mas alguns de seus apóstolos negaram Jesus, tomaram João como messias e fundaram uma religião. O Mandeísmo ainda existe na Turquia e no Irã.

Jesus proclamava-se o messias e aos olhos da seita judaica ele blasfemava. Portanto esse messias deveria, a exemplo de Davi, mil anos antes, libertar o país do domínio estrangeiro e restaurar uma realeza legítima em Israel. Muitos acreditavam que ele viria para acabar com o julgo romano e a corrupção da dinastia herodiana. Mas o ensinamento de Jesus era outro, queria o amor ao próximo, a compaixão, o desprezo ao ódio, a resignação. Seus inimigos souberam tirar proveito disso (Saduceus, doutores da lei, fariseus) e usaram-no para condenar a morte na cruz, que era uma vergonha esse tipo de sentença, só cabível para quem era um ser desprezível e abnegado. A morte para um judeu era a decapitação, esse sim era honroso.

Na tradição Judaica, os homens ficavam doentes porque pecavam e a cura era um monopólio divino. O que é praticamente consenso entre os historiadores é que Cristo atuava em curas por conta própria, indiferentes aos poderes religiosos constituídos no Templo de Jerusalém. Sempre desafiando.

Os planos de Jesus eram outros, muito mais amplos e profundos do que acabar com o domínio romano. Eram planos de paz eterna e isso requer tempo longo. Somado a isso e também por ter desafiado os poderosos no Templo em que expulsou[6] os comerciantes de fé, ou seja, acabou abnegando o centro econômico, político e religioso da Palestina. Ao confrontar esse sistema, Jesus selou sua própria condenação a morte. Interrogado por Pôncio Pilatos sobre se era, como diziam, o rei dos judeus, Jesus teria respondido “meu reino não é deste mundo”, indicando, com estas palavras, a dimensão transcendental de sua mensagem. Isto quer dizer também que o Jesus repudiava a vida terrena, como alguns querem acreditar.

Quero reiterar que não sou especialista em História Antiga, apenas interpreto os fatos pesquisados em livros, jornais e revistas, a luz daqueles que são doutores no assunto. Portanto, se perceberem alguma distorção dos fatos, deixa registrado meu respeito em ouvir opiniões múltiplas.

Sobre a morte de Jesus, é polêmica delinear quem foram os culpados para crucificá-lo. Sabe-se que apenas uma ínfima parte dos judeus (a elite compromissada com Estatuo Quo) representada no Sinédrio (Conselho Supremo de Israel) o condenou. A sentença foi proferida pelo romano Pôncio Pilatos. Se fosse pela lei judaica, sem a intervenção do Sinédrio, Jesus seria condenado a ser apedrejado até a morte. Eram comuns os crucificados sobreviverem por até três dias. Jesus morreu em apenas seis horas. Essa consumação pode ter sido provocada pelas terríveis torturas que ele sofreu. Mas tal interpretação, não exclui a dimensão sobrenatural: (...) “uma vez cumprida sua missão, Jesus foi poupado por meio de uma intervenção divina”.

A Sexta-Feira da Paixão surgiu no dia 7 de abril de 30. Jesus foi crucificado no monte Gólgota. Tinha 36 anos. A Sexta-Feira da Paixão é um momento apropriado para aprendermos com o cristo, seja ele o Salvador ou não, que a tolerância, o amor ao próximo, a compaixão aos necessitados e o amor a Deus é a base comunal para se viver em harmonia, com total respeito mútuo a qualquer tipo de manifestação cultural, étnico, político, artístico e religioso. Espelhar em Cristo Jesus como homem histórico é viver com a alma sempre esperançosa de que um dia o mundo será igual para todos; basta aprendermos a usarmos a maior palavra ensinada por ele: “amar o próximo como eu vos amei”.


[1] “Nos últimos 50 anos, descobertas arqueológicas reviraram o rumo das pesquisas várias vezes. Hoje, os cientistas podem comparar textos antigos, analisar estilo, forma, mensagem e estabelecer pressupostos sobre a cultura da época, seu ambiente e sua idade. O mistério, entretanto, continua. O problema, incontornável, é que faltam fontes. Do nascimento de Jesus até seu batismo, na fase adulta, não há nada, nem nos Evangelhos. Não há nenhuma descoberta arqueológica associada diretamente a vida de Jesus. As historiografias gregas e judaica, tão copiosas sobre outros vultos da Antiguidade, simplesmente ignoram Jesus Cristo. As fontes romanas são posteriores à sua morte. E muitas foram adulteradas pela propaganda religiosa. (grifos meus)”. Textos extraído da Super-Interessante.

[2] Foi fixada para coincidir com festas pagãs do Oriente e de Roma.

[3] Nosso calendário romano-cristão está errado, já devemos estar no ano 2011.

[4] “Há mais de sessenta Evangelhos Apócrifos, como o de Tomé, de Pedro, Felipe, Tiago, dos hebreus, dos Nazarenos, dos Doze, dos Setenta etc, que não entraram no Novo Testamento. (...) Foi o bispo de Alexandria, Atanásio, ainda no século IV, quem escolheu os 27 textos do Novo Testamento e mais 21 Cartas.” Tem enorme valor para a ciência.” Super-Interessante.

[5] “Partes do Gêneses teriam sido criadas por teólogos, entre eles Santo Agostinho (354-430). ‘ O conceito de Pecado Original, derivado da desobediência de Adão e Eva como princípio da história pecaminosa da raça humana, não existe no Velho Testamento judaico’. Cit.

[6] ver Mateus, 21, 12-13