segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Já não é a primeira vez que escrevo sobre esse tema – o São João de Ibicuí. Se vocês observarem no site irão ver uma matéria que fala sobre os problemas que o São João enfrenta com o advento da modernidade e das mudanças culturais. Sei que a cultura se transforma dialeticamente conforme as mudanças grupais e de comportamento, a juventude hoje tem uma forma de enxergar o mundo completamente diferente da nossa geração dos anos 80. Por isso o nosso saudosismo pelo antigo, que acreditamos que seja o bom, o melhor. O São João para alguns e inclusive esse autor, se torna admirável e eloqüente quanto ele chega quase aos seus primórdios, com fogueira, bandeirolas, quadrilhas, palhas, sanfoneiros, zabumbeiros, e músicos comprometidos com o forró de qualidade, intitulado hoje forró pé de serra.

Realmente recordo-me com alegria aqueles tempos que já dava indícios de “seu fim”. O São João de minha terra já no final da década de oitenta, dava a entender que o modernismo iria entrar em suas veias e dilacerá-los. Minha geração conseguiu ainda pegar esse tempo de glória e de boa música cantadas por banda como Embalo 4 de Jequié-BA, em que seus repertórios eram recheados de baião, xaxado, galope e xote. Para quem não sabe, vou relatar como era mais ou menos naquela época.

A festa começava já de tardezinha, por volta das 17:00, estávamos já a brincar na praça cheia de gente de vários lugares, brincávamos de bombinhas de estrala bebé, chuveirinho, traque, entre outros dos artigos de crianças. Neste momento já existia um barracão e dentro já estava exposto uma banda cantando pra alguma quadrilha se apresentar. Porque naquele tempo, existiam quadrilhas de variadas faixa-etária e vindas de colégios diferenciados. Eu já até participei de quadrilhas pela escolhinha QUAQUÁ – mudaram seu nome, infelizmente, para Justiniano Galvão. Era uma multidão de pessoas se amontoando para ver as apresentações dentro do barracão. Era uma honra poder dançar representando a nossa escola e para um público amontoado, claro que tínhamos medo de errar e também, receio, de que na hora de dançar a cadeirinha, nenhuma menina não nos tirasse.

Tinha também uma festa paralela e que acontecia mais tarde no clube ACBI (Associação Cultural Beneficente de Ibicuí). Esse era para gente grande, iam pessoas de variadas classes sociais, mas em grande escala composta por uma elite econômica. Lá era a coqueluche, onde as bandas mais afamadas também tocavam; inclusive a Embalo 4. Neste momento da festa, que acontecia por volta das 0:00 estávamos já a dormir. Eu, no meu caso, com alguém a me vigiar, pois meus pais eram freqüentadores da festa.

As barracas eram de madeiras e recobertas com palhas de coqueiro, tinham fogueira no circuito da festa, pau-de-sebo e quebra pote, ambos eram concorridos de dia e recheados de prêmios. Existiam bandeirolas por toda a parte, as casas eram freqüentadas por variadas pessoas e todos se deliciavam com comidas típicas e bastantes bebidas da época. Tinha também seu Benício, avô de Bruno, meu grande amigo de infância, que adorava soltar balões e agente corria para sua casa apreciar esse belo espetáculo.

Mas como dissemos antes, as coisas mudam, e hoje vemos tudo deferente, o cenário já não é mais o mesmo, o que restou foi apenas o local e ainda persiste algumas bandeirolas que não sei até quando irá resistir. Bandas são outras, sumiram com a tradição da festa, como diz alguns moradores mais antigos, hoje a festa já não é mais junina e sim uma festa pra jovens vim ver. Sumiram tudo, parece que o balão levou com ele todas as tradições e a boa música. Ficaram as migalhas e que é chamado de novo. Criam-se toldos, camarotes, palcos grandiosos, potenciam os sons, cobram-se de barraqueiros, fazem blocos, segregam pessoas, encarecem a festa (a empresa pública encabeçado pela prefeitura não suporta mais esse tipo de financiamento para a festa). Mas é assim que a juventude quer, ver megas shows, ver as calçinhas acoplados com os arrochas e tudo que é de novo.

Tudo indica que estamos mesmo caminhando para o empresariamento da festa, que antes era pública no mais apurado sentido do nome. Eu já anuncio, para mim mesmo, que no futuro próximo, bem próximo, a festa vai ser financiada pela empresa Bahia Tursa e seus séqüitos. Aí veremos que nela será o espelho do Arraiá da Capitá. Tudo recheado de espetáculo e acessível pra poucos. Iremos ver a nossa principal praça ser fechada com madeirite e quem quiser ver a festa terão que reembolsar uma quantia diária ou comprar um pacote pra ver os megas shows e as inúmeras luzes de variadas cores.

Essas são reflexões, sem nenhum cunho científico, com aquilo que eu tenho como sendo de bom agrado e de bom valor – como, por exemplo, escutar músicas de Luiz Gonzaga, Trio Nordestino, Dominguinhos, entre muitos outros do mesmo quilate. Adoro minha terra e esse espírito junino, não os deixo jamais, custe o que custar, mesmo se vier a acabar eu quero ficar na praça, se assim Deus me conceder, sentado, ouvindo uma vitrola e tomando licor, relembrando aqueles velhos tempos que podíamos dançar e ouvir uma linda música, acoplado de sentimento e letras arrojadas. Espero que isso não aconteça, que enxerguemos mais profundamente, que possamos revitalizar esse antigo-moderno São João, com outras roupagens, mas sem perder a essência de que festa boa mesmo é quando ela significa muito mais do que arranjar beijos e transas ao vento: ela deixa marcas de saudades e admirações artísticas.

Por: Wagner Freitas.

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