segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Como poderemos definir uma guerra justa? Esse tema me chamou atenção quando vi na capa da revista Veja dessa semana (6/08/2006) essa indagação. Será realmente que existe uma guerra justa? Uma guerra pode ser justa? Ou ao contrário, a guerra é injusta pra quem? Essas são interrogações que pretenderemos desvendar, ou senão, refleti-las.

Desde que o mundo é mundo existiram conflitos entre espécies diferentes ou da mesma espécie. Foi assim com os dinossauros, é assim com todo o eco-sistema global seja ele vegetal ou não. Os botânicos chamam de relações harmônicas e relações desarmônicas os conflitos entre espécies. As espécies são assim, buscam permanentemente a sua perpetuação. E não podia deixar de ser também com os homens; porém existe uma ressalva: nós seres humanos temos o poder do discernimento e é isso que nos atribua como sendo espécie racional. Mas essa racionalidade nos parece que tem limites que ao ser transgredido saímos do eixo e cometemos atos criminosos.

O conflito é o outro eu ainda não revelado, é a manifestação do meu eu negativo, pois em uma sociedade temos que viver com leis, regras e quando as transgredimos revelamos um outro lado do eu que não costuma está a todo tempo revelado. Por isso temos que constantemente equilibrar essa revelação transgressora, somos, desde pequenos, educados em sociedade e em família, para nos polir ou frear essa nossa transgressão humana. Impõe-nos o que devemos e o que não devemos fazer em sociedade, o que é lícito e o que não é lícito fazermos, e isso vai de cultura pra cultura. E quando saímos da “normalidade” somos advertidos/penalizados pelos pais e pela sociedade.

Mesmo na Bíblia desde a criação do homem com Adão e Eva existiram conflitos e de lá pra cá, segundo interpretações bíblicas, depois que o homem conheceu o pecado, vive também nele. O homem além de transgredir a sua espécie, aniquila as outras. O porquê disso é a essência da questão. Mesmo as instituições religiosas (cristianismo, maometanos, judeus...) já se envolveram em conflitos e muitas até hoje são causas de extermínio entre irmãos. A Igreja Católica matou e apoiou a violência em nome da “guerra justa”, assim, como também, os protestantes e muçulmanos. A questão de ser justa ou não justa é apenas ponto de vista. Quem entra na guerra sempre tem justificativas que o induzem a pensar que são os certos e estão no caminho correto e justo. E quem não pensa assim ou não comunga com essas idéias são sujeitados a cruéis violências, guerras e mortes. As nações caminham para a barbárie? Essas perguntas não têm respostas imediatas apenas análises aposteriori.

O mundo assiste bestializado o conflito histórico, étnico, religioso entre nações israelitas e libanesas. Ambições múltiplas estão em jogo: petróleo, poder político, revanchismo, domínio religioso e fanatismo, território, uma globalização de interesses envolvendo países orientais e ocidentais. E, nesse meio todo, estão os civis que tentam sobreviver, civis que fogem e civis que já não estão mais entre nós. Crianças e mulheres mutiladas, dores das mães e dos pais ao perder um ente querido, choro com e sem lágrimas, e nós apenas assistindo em nossas casas tais agressões humanitárias, aceitando e convivendo, como um hospede qualquer, a violência mundial.

Enquanto houver guerra a justiça sempre será dúbia e visões múltiplas assinalarão respostas. O homem é o maior predador da cadeia viva, o planeta iria se sair muito bem sem a presença humana. A ganância, ambições, a busca de poderes, o dinheiro, todos esses elementos conduzem a destruição humana, e o pior, a todo o planeta. Nenhuma guerra por ser já uma guerra é plena de ser denominada de justa, se houver dor e morte, perde-se o valor de se ter uma guerra. Mas como já dizia Michel Foucautl “a política é a continuação da guerra por outros meios”. Guerra e política andam de mãos dadas, no momento de uma guerra existem atos políticos e existindo atos políticos há também uma guerra no meio.

Somo seres politicamente envolvidos nas determinações governamentais. O Líbano, países africanos, Índia, Iraque, América Latina, todas as nações ou povos pedem socorro por causa dessa globalização desenfreada, ou melhor, globocolonização. As fronteiras não existem quando o capital perfura as veias humanas de inúmeros lugares que não tem poder econômico planetário. Somos vítimas do capital especulativo, do roubo às nossas riquezas naturais, da massificação do consumo e do comportamento, destroem nossos patrimônios culturais, hipnotizam-nos com modismos e culturas advindas de lugares que não nos pertencem. Enfim, parece realmente que a máxima dita por Foucault está se comprovando – a paz faz surdamente a guerra.

Por: Wagner Freitas.

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