segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

A ONU prevê que em 2005, 51% dos pobres do mundo estarão concentrados na África e a escassez de água, que afeta 300 milhões de africanos, é vislumbrada como um novo ímã de conflitos, segundo a FAO – dois terços dos rios africanos são compartilhada por mais de um país. Essas são as expectativas para o berço da Humanidade que é a África. (E eu aqui em minha casa vendo a água da torneira e da descarga indo pelo ralo).

Não se espante se você ouvir falar em Áfricas e não em África, porque África é um continente cheio de países africanos e muitos ainda continuam em conflitos bélicos. Mais de 100 mil crianças soldados carregam um fuzil em alguns cantos da África. Dos 13 milhões de mortos no mundo por conflitos de grande escala, 12 milhões são africanos, segundo as Nações Unidas. Locais como Nigéria, Sudão, Somália, Uganda, República do Congo, Costa do Marfim e Burundi, estão em guerras ou em ameaças de conflitos constantemente.

De 1993 a 2002, o continente aumentou em 24% o gasto com armamentos, segundo dados do centro de pesquisa sueco Sipri, e seis países continuam destinando recursos mais ao Exército do que à educação. Os gastos em saúde pública na maioria desses lugares são irrisórios, faltam de tudo e muitos morrem a míngua por não ter como e onde os socorrer. As causas dos conflitos variam, mas há características comuns: instituições débeis, governos ruins, autoritarismo, pobreza, desigualdade e exclusão das minorias. Tudo isso tem um elo: o petróleo e as riquezas minerais. Além do petróleo, na África se encontram dois terços dos recursos minerais do mundo (diamantes, ouro, platina). E tem mais, grupos ligados ao G8 (países mais ricos do mundo, incluindo a antiga União Soviética) financiam criminosos de guerras na África fornecendo armas. É a indústria do armamento a serviço da guerra, sem guerra não se vende armas.

No informe da ONU de 2002 sobre o conflito da República do Congo, 29 empresas foram acusadas, quatro delas da Bélgica, de contribuírem para a continuação do conflito e outras 85 – destas, 45 ocidentais – de fazerem negócios na zona da guerra sem respeitar nenhum código ético. Outro órgão estrangeiro Human Rights Watch, em outro relatório sobre o Congo, alerta o mundo de que “multinacionais interessadas na extração de ouro estabeleceram relações com senhores da guerra e autores de matanças”, e que estes têm ajudado determinada empresa a “achar jazidas minerais ricas em ouro”.

Essa procura pelo ouro vem desde os tempos do colonialismo começando com os ingleses e se estendendo a vários países da Europa. Não respeitaram nada dos africanos. Cultura, crenças, manifestações artísticas, rituais, danças, formas de governos, foram devastados com as inúmeras mortes destes povos. Fizeram da África um território rural cercado – é o que nós chamamos de Partilha da África. Os europeus, com suas ideologias doentias de inferioridade racial, justificaram as suas ações para anexar territórios africanos. O terrorismo étnico-racial foi colocado em prática e muitos povos da África foram vitimados pelas ideologias retrógradas a respeito do biótipo humano. Achavam que estudando crânio humano, saberiam identificar se determinadas pessoas eram propícias ou não ao crime, e chegavam à conclusão que o cérebro dos africanos eram anormais. Pronto, a ciência em prol do crime.

Mas também existem na África países ricos e com índices econômicos de não meter inveja a países das Américas. Na África existem faunas e floras surpreendentes, riquíssimas de ecossistemas. Tem lugares que existe abundância de água, outros que nem existem, tem desertos, savanas, pirâmides, enfim, é um bonito lugar pra se visitar e respeitar. Somos descendentes dos africanos e temos uma gama de genes compartilhados com eles. O Brasil deve muito a esse povo, tanto em contribuição cultural, como nas mazelas que nós fazíamos.

Temos que olhar a África com outros olhos, percebendo as diferenças de povos, as suas dificuldades e seus anseios, reaprendermos com as suas filosofias de vida, o tratamento com a natureza, a lembrança dos antepassados contados pela oralidade, respeitarmos as suas riquezas minerais e territoriais; isso tudo levará para um reordenamento das disparidades sociais, políticas e culturais. África no plural, Brasil no singular, essa tem que ser a máxima. Achar a nossa identidade observando as pluralidades da nossa mãe África.

Sugestão: Assistam ao filme Hotel Ruanda é hiper atual.

Por: Wagner Freitas.

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