segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

Paulo Freire, um Homem além de seu tempo!

Professor Wagner Freitas

Data: 26/10/2006

Paulo Freire era brasileiro, natural de Recife –PB. Estudou Direito em Recife e logo após vai trabalhar com educação de adultos e alfabetização de trabalhadores no Sesi (Serviço Social da Indústria). Torna-se diretor do Departamento de Extensão Cultural da Universidade de Recife. Participa em Recife do Movimento de Cultura Popular (MCP). Trabalhou também, como liderança, na campanha de alfabetização em Angicos, Rio Grande do Norte. Elabora o Plano Nacional de Alfabetização. Participa da criação do PT (Partido dos Trabalhadores). É nomeado secretário da Educação no município de São Paulo, no governo de Luíza Erundina.

Publicou as seguintes obras: Pedagogia do Oprimido; Pedagogia da Esperança: um Reencontro com a Pedagogia do Oprimido; A Educação na Cidade; À sombra desta Mangueira.

Ao analisar o livro de Paulo Freire, a pedagogia da autonomia, compreende-se vários pontos que são fundamentais para o entendimento da prática educacional entre professor-aluno. Perceber e compreender que o educador aprende constantemente com o seu aluno e vise-versa é a chave para dinamizar e dialeticizar a prática do aprender fazendo. Saber que a autonomia do educador em sala de aula não é feita de modo autoritário, centralizador, como se o educador fosse o detentor do saber e o aluno um mero depositor bancário de informações.

Outro aspecto em que Paulo Freire chama atenção é sobre a consciência que deve ter o educador em relação ao seu aluno. O aluno antes de ser um mero aprendiz é um ser humano, e um ser humano em processo de formação. Saber como lidar com esses alunos é de substancial responsabilidade do educador. Na verdade o educador tem que ser além de um mero professor, tem que ser observador, saber entender o (s) porquê (s) de determinada atitude comportamental incomum, exercer um olhar crítico e até mesmo psíquico, chegando a esfera da psicologia educacional. O mestre deve incentivar ao aluno a sua práxis histórica; o educador deve se posicionar coerentemente com o que diz e com o que pensa para que a sua prática sustente o que está dizendo, não caindo em controvérsias ou simples falácias, contendo um ar de falso moralismo. A sua prática deve condizer com a sua teoria para que o educando tenha uma certa compreensão e firmeza com que o educador diz.

Acreditar no aluno e saber que ele também detém uma cultura específica contraída durante o decorrer de sua vivência, é outra tarefa que o educador deve ter em mente. Acreditar que o aluno é sempre capaz de transformar não apenas o seu pensar educacional, mas também a sua vida, o seu pensar sobre o mundo, sobre a história. Alimentar e compartilhar a capacidade do educando, dizendo-lhe que sempre, basta querer, será capaz de realizar aquilo que o é desejável, mesmo que pareça ser algo bastante dificultoso; se acreditar em si mesmo, realizará tal façanha. E a partir do momento em que o professor age no aluno, esse automaticamente está agindo direta ou indiretamente no educador; ambos se transformando constantemente no fazer dialético.

Paulo também faz referencia sobre a didática. Para ele a didática atua dialeticamente na relação ensino-aprendizagem. É uma atuação na prática educacional, saindo do diletantismo teórico, para assumir um papel significativo na formação do educador. A prática educativa não deve ser dissociada da crítica, do conhecimento histórico e social em que vivemos. A didática assume a multidimensonalidade do ensino-aprendizagem que caminha ao lado da técnica, do humano e do político.

O Paulo Freire via que o caminho do ensino exige desafios, riscos, aceitação do novo e rejeição a qualquer forma de discriminação. Educar é compartilhar, ouvir, tentar entender o que se diz através do seu aluno, é estar propício a aceitar o “diferente”, acoplar o que se sente discriminado ao corpo dos alunos, mostrando a todos que em relação ao ser humano se encontra algumas semelhança, mas este não é via de regra. O que todos materialmente e espiritualmente somos é uma vulcanização de diferenças, compartilhamentos de experiências individuais e específicos. Mostrar aos alunos o que isso significa é de consubstancial significância para o processo de aprendizagem e ensino. Portanto, ensinar exige reflexão crítica sobre a prática, e isto se faz atuando em conjunto com a pesquisa. Pesquisa e ensino se completam, se enriquecem e transformam não apenas o nosso eu e sim uma prática social em comunhão. Isto se processa para que o ensino não seja apenas transferir conhecimentos ou depositar conhecimentos, e sim, como diz o próprio autor, “criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”.

Outro ponto bastante educativo para a sociedade, dito por Paulo, é quando este faz menção sobre o ensino e o ser condicionado. Para ele é na inconclusão do ser que se processa paulatinamente a construção deste ser. Explicando melhor, não é dizer o que seja certo ou errado, do que seja bom ou rim (uma ótica particularmente sua) que estará se formando um ser, estará sim modulando este ser. Como retrata o próprio iluminado autor: “não é a educação que fez mulheres e homens educáveis, mas a consciência de sua inconclusão.” É no fazer fazendo que se “forma” e transforma todos os seres humanos. É na busca de sua utopia que se projeta e se constrói este homem como ser em eterna construção.

Em fim, muitos outros aspectos em relação à vida humana atuante entre educador-educando foram abordados e são de imprescindíveis releituras. Todos os aspectos abordados por Paulo Freire rodam pela prática pedagógica do professor e a sua autonomia na sala de aula e fora dela. É um exemplo de vida e de coragem para tentar mudar o que se é estabelecido por uma instituição: seja de ensino ou até mesmo pelas imposições atuantes do Estado Nacional Brasileiro.

Para além do que já foi dito, chego a um pensamento bastante particular e até mesmo pejorativo: de que ensinar ao aluno, dialeticizar sobre a sua realidade vivente, o seu meio onde vive e convive (mora); saber a política que é implantada em seu bairro, cidade, escola; construir um discernimento crítico sobre essa realidade, pensando, sendo agente histórico mutável e, portanto, capaz de modificar essa realidade elitista, seja ela em todas as instâncias em que permeiam (cultura, educação, família, religião, etc); são tarefas em construção tanto do educador como do educando, pois, somente uma educação multidirecional, ampla, espontânea; será capaz de transformar essa realidade neoliberal que se encontra em nosso país.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa. Ed. Paz e Terra, São Paulo, 1996.

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