segunda-feira, 15 de janeiro de 2007

FERIADO TEM CARA DE PRAIA

Professor Wagner Freitas

Data: 27/10/2005

Mais um final de semana chegando, mais um feriado se aproximando e todos nós grapiunenses pensando em o que fazer para se divertir. Uma boa opção é ir à praia, curtir o mar e ver pessoas semi-nuas perambulado naquele espaço. Ir à praia para nós itabunenses é um prazer momentâneo, que passa ao entardecer, porque bom mesmo é pegar o entardecer e a noite de Itabuna, é aquele marauá de gente de todas as partes que se encontram nos barzinhos espalhados em toda Itabuna, é o máximo tomar aquela cervejinha super geladinha que somente os barzinhos de Itabuna têm em relação aos barzinhos de Ilhéus. Ilhéus é nossa co-irmã que nos acolhe e convidá-nos ao prazer que as suas belas praias têm. O sul da Bahia é bom demais. Quem nunca veio, tem que vim o mais rápido possível. Estamos esperando com a maior boa vontade, podes crer.

Mas o que isso tem haver com história seu historiador? (pergunto eu). Calma, estou apenas iniciando o que proponho nesse artigo. Quero mostrar ao leitor que o hábito de banhar-se ao mar não era costume entre os povos lusos do século XIX. Aproximadamente 1810 se desconhecia a prática de tomar banho no mar. Ninguém considerava costumeiro nem civilizado lagartear na área até 1810. Mas tudo mudou, quando o nosso futuro rei dom João VI faria um mergulho na Praia de Caju – hoje é um lugar portuário e degradado do Rio de Janeiro. O monarca estava com a perna infeccionada por causa de um carrapato e o seu médico recomendou que ele se banhasse no mar, aliás, banhar apenas as pernas. Dom João usou então como traje um barril, pois tinha medo de caranguejos. O recipiente tinha o fundo tampado. Na lateral havia um pequeno buraco, era por onde a água entrava.

Em locais como a França e a Grã-Bretanha, algumas senhoras tomavam seus banhos para curar doenças físicas e até psíquicas. Os médicos europeus tinham teses que defendiam a cura através do banho marítimo e muitos seguiam esse conselho. O médico de dom João resolveu tentar em seu cliente e deu certo, o monarca se curou das amalgamas dos carrapatos.

Depois disso, muitas pessoas no Brasil resolveram copiar os gestos do seu rei e decidiram ir à praia. Surgiram até casas de banhos terapêuticos que ofereciam aos banhistas piscinas com água do mar e locais para se trocar e guardar as roupas. É claro que os nossos índios já praticavam o gosto pelo banho há muito tempo atrás, mas muitos dos nossos aborígines preferiam ir se banhar mais em um rio pertinho do que propriamente no mar. Isto quer dizer que o gosto pelo banho nós herdamos dos nossos irmãos índios e não dos europeus que se empanturravam de perfumes franceses para disfarçar o mau cheiro impregnado em seus corpos.

Os tempos foram se passando e a prática de tomar banho na praia incomodava os governantes, porque para alguns era uma imoralidade um pudor a boa ordem e aos bons costumes. Inicialmente, as senhoras banhavam-se de madrugada, para não serem vistas. Em 1917, o prefeito fluminense, Amado de Brito, regulamentou horários para tomar banhos de mar. De 1º de abril a 30 de novembro, podia-se entrar na água das 6h às 9h e das 16h às 19h, no verão, das 5h às 8h e das 17h às 19h. Quem fosse pego em outros horários seriam entregues a polícia; ou seja, tomar banho marítimo fora de hora, era caso de polícia no Brasil em 1917.

A liberdade de freqüentar a praia sem a perseguição da polícia começou com os esportes aquáticos. Em 1880, aconteceram as primeiras regatas, por influência inglesa. E a primeira mulher a vestir um maiô de peça inteira colada no corpo foi à campeã olímpica Annette kellerman, nas Olimpíadas de Estocolmo em 1912.

Em 1946, o francês Louis Reard chocou o mundo ao mostrar dançarinas de cabaré com umbigo à mostra, vestida apenas com a sua invenção: o biquíni. Quinze anos depois, a polêmica chega aos territórios brasileiros: o biquíni foi proibido nas praias nacionais por Jânio Quadros. Em 1964, inventa-se o monoquíni (topless) que foi veementemente criticada pela Igreja Católica Até hoje existe um certo bloqueio em se usar topless. Algumas praias já liberaram o nudismo naturalista, mas ainda não é tão natural para a sociedade tradicionalista e cristã. Quem não se lembra de Rosimeri Costa que foi abordada por policias por está na praia carioca sem as parte de cima do biquíni, com os seios a mostra? Esta foi conduzida até a delegacia onde ficou presa até pagar fiança e ser liberada.

Um fato significativo merece atenção: até 1860 as praias serviam de lixão. Ao invés de guarda-sóis, urubus, lixo e excrementos e cadáveres era o que se via. As praias cariocas, grande parte delas, funcionavam como lixão, cheias de lodo, carcaças de bichos e rodeadas de urubus, recebiam também os barris, carregados pelos escravos, cheios de fezes e outros excrementos humanos. Também podia-se observar que negros escravos eram lançados à maré quando mortos ou mal enterrados na areia fofa. Como disse muito bem Gilberto Freyre, Sobrados e Mucambos, “praia queria dizer então imundice”. Logo após esse período o Estado preocupa-se com a questão da higiene sanitária, construindo assim canais de esgoto em residências nobres. Muitos banhistas preferiam ir para lugares distantes evitando assim o contato direto com as águas poluídas das praias perto da cidade. A elite, dona dos grandes sobrados, antes instalados nas margens dos rios ou em regiões centrais, migraria para a beira-mar, obrigando o governo a investir no saneamento das praias.

Hoje a coisa não está muito diferente, senão pior – em relação à higienização praieira. Cada vez mais as pessoas buscam lugares vazios, isolados, não somente por causa da poluição das águas, mas, porque também querem viver isolados, sem convívio com diferentes. É a individualidade imperando nas relações. Fazem-se grupos de amigos que se curtem sozinhos em um lugar distante qualquer, sem piegas e sem intervenções alheias. Bem, mas mesmo assim, ainda vale a pena irmos à praia, principalmente em dias de feriados. E se for prolongado então, hum que delícia!

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